sábado, 12 de novembro de 2016

A CRIAÇÃO DO CURDISTÃO PODE AJUDAR A PACIFICAR O ORIENTE MÉDIO

A criação de um país para o povo curdo pode contribuir para a redução dos conflitos étnico, religioso e político no Oriente Médio




Os curdos são um grupo étnico, nativo da região referida como Curdistão, que inclui partes adjacentes da Turquia, Iraque, Síria, Irã, Armênia, Azerbaijão e Geórgia, com área de cerca de 500 mil km2. Com população estimada em 28 milhões, os curdos constituem o maior contingente populacional no Mundo sem Estado, ou seja, sem território próprio que possa ser considerada como sua pátria. Só esse fato já justificaria a criação do estado do Curdistão, para abrigar esse grande contingente populacional com identidade própria, ainda sem pátria.
Apesar de fazer parte de uma região altamente conturbada, o Curdistão iraquiano, por exemplo, apresenta na prática todas as características de um país independente, com a sua liderança política e econômica constituídas em torno de Erbil, a capital de fato do “estado” curdo.  Para tanto, vários aspectos podem ser enfatizados:
1)      A disciplina social dos curdos é admirável;
2)     Há um senso de otimismo, penetrante e contagiante; o espírito empreendedor continua vivo e está em ascensão.
3)     Embora tenha havido um êxodo de empresários após as perdas territoriais iniciais para o grupo extremista Estado Islâmico (EI), a partir de 2013, os investidores estrangeiros estão retornando, o que pode se acelerar com a iminente expulsão do EI de Mossul, considerada a capital do EI no Iraque. Há vários projetos concluídos ou em execução para melhorar a infraestrutura local, como por exemplo o aeroporto internacional de Erbil e a rodovia ao seu redor, de modo que a região vive um grande momento de expansão econômica.
4)      O ponto de inflexão econômica para a região foi a lei de atração de investimentos aprovada em 2006, abrangendo medidas como a isenção de impostos por um período de 5 a 10 anos, repatriação de lucros, possibilidade de contratação de trabalhadores estrangeiros, concessão gratuita de terrenos para projetos estratégicos.
5)      O Curdistão é uma sociedade multiétnica e multireligiosa. A maioria dos curdos são muçulmanos sunitas, mas rejeita o fanatismo e o fundamentalismo religiosos. Isso tem facilitado a aceitação e o assentamento rápido de dezenas de milhares de refugiados provenientes do Iraque sob controle do EI, incluindo turcomenos, yazidis e cristãos assírios e árabes.   
6)      As grandes cidades curdas como Erbil, Dohok e Zako apresentam sinais visíveis de tranquilidade, o que permite, por exemplo, a sua população sentir-se segura, inclusive à noite.
7)    A sociedade curda, ao contrário de muitos países muçulmanos, não reprime as mulheres, as quais tem ampla liberdade de expressar seus pensamentos e opiniões. Também, as mulheres participam voluntariamente do serviço militar, como peshmerga, e são muito admiradas e respeitadas.
8)    Os curdos no Iraque já dispõem de considerável autonomia, tendo suas bandeiras hasteadas nas repartições públicas, enquanto as escolas públicas são bilíngües e ensinam o idioma curdo.
9)                 Por todas essas razões, o Curdistão lembra Israel. Como Israel, o Curdistão não é dominado nem pelos árabes nem pelo Islã. Como Israel, o Curdistão é mais democrático do que qualquer um de seus vizinhos. Como Israel, o Curdistão está cercado de inimigos que não querem que ele exista. Como Israel, o Curdistão dirige seus olhos para o Ocidente. Enfim, o Curdistão tem mantido o equilíbrio mesmo que não conte ainda com apoio mundial majoritário.
O Curdistão como fator de estabilidade do Oriente Médio
Enfim, um Curdistão independente poderia constituir um fator de estabilidade numa região tão carente desse requisito mínimo, indispensável para se permitir o início e a consolidação de um processo sustentável de desenvolvimento político, econômico e social de uma parcela significativa do Oriente Médio.  Ademais, em função do caráter tolerante e isento de radicalismo do povo curdo, o Curdistão pode abrigar outras minorias perseguidas no Oriente Médio, como de fato já tem ocorrido, principalmente os yazidis, vítimas recentes de ações de genocídio pelo Estado Islâmico.
O projeto de independência ao povo curdo teria ainda a grande vantagem de se basear em uma realidade social e política próprias e não ditada apenas pelos interesses das potências globais, que têm sido preponderantes até hoje, subsequente à divisão do espólio do império otomano após o fim da I Guerra Mundial em 1918.    E como esse projeto ainda defronta com grandes resistências e dificuldades, poderia ser iniciado pelo chamado Curdistão iraquiano, o qual poderia dar um passo decisivo a partir da expulsão do Estado Islâmico de Mossul, no norte do Iraque, ao final de 2016 ou início de 2017.
Soji Soja

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