Protestos por todo Irã após morte de jovem de 22 anos pelo uso inadequado do véu
No início de out/2022 prosseguiam
pela 3ª semana os maiores protestos por todo o Irã desde 2019 quando tinha ocorrido a revolta
pelo aumento dos preços de combustíveis, mas com características inéditas em
função do alcance territorial e do envolvimento do largo espectro da sociedade tendo como objeto o próprio sistema islâmico repressivo
implantado desde 1979.
A gota da água que desencadeou a
atual onda de violência foi a morte de Mahsa Amini, iraniana de origem curda de
22 anos, em 16.09.2022, após ser detida 3 dias antes pela polícia de vigilância
moral sob a justificativa de uso de vestimentas inadequadas. Segundo o irmão da
jovem, ela teria deixado parte dos cabelos à mostra sob o véu islâmico,
obrigatório no país. Gravemente ferida, Mahsa foi transferida da prisão para um
hospital onde faleceu 3 dias depois. Apesar do claro envolvimento dos policiais
nessa morte, as autoridades governamentais rejeitaram qualquer responsabilidade
na ocorrência dessa fatalidade.
As primeiras manifestações começaram em 17.09 e se espalharam pelas 31 províncias. Desencadeado inicialmente pelas mulheres, acabaram envolvendo os homens e todas as categorias sociais, inclusive minorias étnicas e religiosas, transformando-se praticamente em protesto contra o sistema fundamentalista islâmico implantado a partir de 1979 sob a liderança do Aiatolá Khomeini. Apesar da dura repressão pelas forças governamentais, com uso inclusive de disparos de armas de fogo, que resultou até o início de out/22 em quase uma centena de mortes, os manifestantes continuam saindo nas ruas e espaços públicos, inclusive atacando e destruindo símbolos e imagens das autoridades islâmicas.
Os protestos desencadeados a
partir da morte da Mahsa foram extrapolados e acabaram direcionados contra o
regime ditatorial da república fundamentalista islâmica implantada a partir de
1979 que restringe as liberdades pessoais no Irã, principalmente em relação às
mulheres. Inicialmente, a sharia, lei islâmica vigente no Irã, atribui
status inferior às mulheres em relação aos homens. Mas as mulheres não são tornadas inferiores
apenas por costumes e tradição, mas também por lei.
Nem sempre foi tão duro ser mulher no Irã. Antes da Revolução
Islâmica, as mulheres do país estavam adquirindo direitos similarmente a
mulheres de outras partes do mundo. Elas eram eleitas, serviam em conselhos
locais, podiam integrar a força de trabalho como juízas, funcionárias públicas,
policiais, etc. Hoje, no Irã, por exemplo, elas não podem viajar sem a
permissão do marido, procurar ou ter um emprego sem a permissão de um parente
do sexo masculino, devem seguir rígidos códigos de vestimentas, que devem cobrir
todo o corpo e não podem descobrir o cabelo em público. Elas são separadas dos
homens nos locais de trabalho, meninas e meninos têm suas próprias salas de
aula segregadas e elas são obrigadas a sentar-se na parte de trás dos ônibus,
entre outras restrições contra as mulheres.
Os protestos contra a liderança clerical linha dura e
inflexível da república islâmica implantada pelos aiatolás a partir de 1979 têm
sido fortemente reforçados pela insatisfação em relação à crise econômica que
assola o país há vários anos: inflação, preços altos, aumentos do desemprego,
corrupção e repressão política. E a crise
econômica tem sido agravada pela insistência do governo iraniano em realizar altos
gastos para desenvolver a sua capacidade para produzir armas nucleares, além de
manter objetivos de alcançar a hegemonia regional contra países islâmicos
sunitas como a Arábia Saudita além de financiar grupos radicais em países como
no Iêmen, Líbano (Hezbollah) e Faixa de Gaza (Hamas).
O episódio da morte de Mahsa que contribuiu
para desencadear protestos em todo o Irã
chama a atenção mundial mais uma
vez como exemplo da submissão de pessoas, principalmente de mulheres, às leis e
costumes que ignoram as necessidades das pessoas desfrutarem de condições
concretas de liberdade de pensamento e de ação para que cada pessoa consiga por
si buscar as condições mínimas de uma vida digna.
Shoji
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