sábado, 8 de outubro de 2022

REVOLTA INÉDITA NO IRÃ PELOS DIREITOS FEMININOS

 Protestos por todo Irã após morte de jovem de 22 anos pelo uso inadequado do véu

No início de out/2022 prosseguiam pela 3ª semana os maiores protestos por todo o Irã  desde 2019 quando tinha ocorrido a revolta pelo aumento dos preços de combustíveis, mas com características inéditas em função do alcance territorial e do envolvimento do largo espectro da sociedade  tendo como objeto o próprio sistema islâmico repressivo implantado desde 1979.

A gota da água que desencadeou a atual onda de violência foi a morte de Mahsa Amini, iraniana de origem curda de 22 anos, em 16.09.2022, após ser detida 3 dias antes pela polícia de vigilância moral sob a justificativa de uso de vestimentas inadequadas. Segundo o irmão da jovem, ela teria deixado parte dos cabelos à mostra sob o véu islâmico, obrigatório no país. Gravemente ferida, Mahsa foi transferida da prisão para um hospital onde faleceu 3 dias depois. Apesar do claro envolvimento dos policiais nessa morte, as autoridades governamentais rejeitaram qualquer responsabilidade na ocorrência dessa fatalidade.

Ref.: A onda inédita de protestos que o Irã tenta esconder 5 de out. de 2022 BBC News Brasil

As primeiras manifestações começaram em 17.09 e se espalharam pelas 31 províncias. Desencadeado inicialmente pelas mulheres, acabaram envolvendo os homens e todas as categorias sociais, inclusive minorias étnicas e religiosas, transformando-se praticamente em protesto contra o sistema fundamentalista islâmico implantado a partir de 1979 sob a liderança do Aiatolá Khomeini.  Apesar da dura repressão pelas forças governamentais, com uso inclusive de disparos de armas de fogo, que resultou até o início de out/22 em quase uma centena de mortes, os manifestantes continuam saindo nas ruas e espaços públicos, inclusive atacando e destruindo símbolos e imagens das autoridades islâmicas.

 Protestos contra a república islâmica fundamentalista

Os protestos desencadeados a partir da morte da Mahsa foram extrapolados e acabaram direcionados contra o regime ditatorial da república fundamentalista islâmica implantada a partir de 1979 que restringe as liberdades pessoais no Irã, principalmente em relação às mulheres. Inicialmente, a sharia, lei islâmica vigente no Irã, atribui status inferior às mulheres em relação aos homens.  Mas as mulheres não são tornadas inferiores apenas por costumes e tradição, mas também por lei.

Nem sempre foi tão duro ser mulher no Irã. Antes da Revolução Islâmica, as mulheres do país estavam adquirindo direitos similarmente a mulheres de outras partes do mundo. Elas eram eleitas, serviam em conselhos locais, podiam integrar a força de trabalho como juízas, funcionárias públicas, policiais, etc. Hoje, no Irã, por exemplo, elas não podem viajar sem a permissão do marido, procurar ou ter um emprego sem a permissão de um parente do sexo masculino, devem seguir rígidos códigos de vestimentas, que devem cobrir todo o corpo e não podem descobrir o cabelo em público. Elas são separadas dos homens nos locais de trabalho, meninas e meninos têm suas próprias salas de aula segregadas e elas são obrigadas a sentar-se na parte de trás dos ônibus, entre outras restrições contra as mulheres.

 Protestos contra a incapacidade do governo superar a crise econômica

Os protestos contra a liderança clerical linha dura e inflexível da república islâmica implantada pelos aiatolás a partir de 1979 têm sido fortemente reforçados pela insatisfação em relação à crise econômica que assola o país há vários anos: inflação, preços altos, aumentos do desemprego, corrupção e repressão política.  E a crise econômica tem sido agravada pela insistência do governo iraniano em realizar altos gastos para desenvolver a sua capacidade para produzir armas nucleares, além de manter objetivos de alcançar a hegemonia regional contra países islâmicos sunitas como a Arábia Saudita além de financiar grupos radicais em países como no Iêmen, Líbano (Hezbollah) e Faixa de Gaza (Hamas).

 Necessidade de eliminação de regras e costumes arcaicos que ameaçam a vida humana

O episódio da morte de Mahsa que contribuiu para desencadear protestos em todo o Irã

chama a atenção mundial mais uma vez como exemplo da submissão de pessoas, principalmente de mulheres, às leis e costumes que ignoram as necessidades das pessoas desfrutarem de condições concretas de liberdade de pensamento e de ação para que cada pessoa consiga por si buscar as condições mínimas de uma vida digna.    

Shoji

 

 

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