Streaming de notícias como alternativa à assinatura digital individual?
O Parlamento
australiano aprovou em 25.02.2021 o Código de Negociação Obrigatória para Mídia
de Notícias e Plataformas Digitais (News Media Bargaining Code), que
exige que as grandes empresas de tecnologia paguem aos meios de comunicação
pelo uso do seu conteúdo jornalístico, do qual as plataformas digitais obtêm
muitos benefícios diretos e indiretos. Essa lei tem como objetivo fazer com que
grandes empresas de tecnologia de informação, como Google e Facebook, negociem
algum tipo de remuneração pelo conteúdo jornalístico gerado pelos meios de comunicação, ajudando assim a manter
o jornalismo de interesse público na Austrália.
Essa legislação australiana que é a primeira do
mundo nesse gênero pode servir de modelo para resolver conflitos e manter o
equilíbrio entre os meios de comunicação (imprensa profissional), que passam
por grandes dificuldades financeiras ao redor do mundo em função da evolução da
tecnologia virtual, e as empresas de tecnologia que dominam a internet,
captando grande parte da interação com os usuários e consumidores e em consequência
as receitas de publicidade digital.
a) Austrália vs Facebook e Google. Quem ganhou a ‘guerra’ das
notícias? 26 de fev. de 2021 Jornal
Económico
b) Lei na Austrália obriga Facebook a pagar por
notícias 25 de fev. de 2021 CNN Brasil Business
Importância
da imprensa livre para a sustentação da democracia
Nesse
sentido, deve se ter em mente que a imprensa livre e atuante é fundamental para
o adequado funcionamento da democracia e
da economia de mercado pelo seu papel investigativo e de vigilância das ações dos
atores da sociedade, principalmente dos governos,
na defesa em última instância dos direitos e interesses dos cidadãos.
Como
exemplo recente, pode-se destacar que a restrição à liberdade de imprensa foi
um dos meios utilizados pelo bolivarianismo chavista para a implantação de um
regime socialista autoritário na Venezuela, como relata Miguel Henrique Otero,
editor e proprietário do maior jornal independente do país, o El Nacional.
No
caso do Brasil, a eficácia de uma lei similar seria ainda mais importante pois são
notórias as dificuldades enfrentadas pela mídia, principalmente daquela
impressa representada pelos jornais e diversos periódicos e revistas, em função
da evolução da tecnologia digital e do fato da mídia impressa não estar se
adaptando bem a esse novo ambiente.
Nesse sentido, por exemplo, as chamadas assinaturas digitais de jornais
e revistas não estão tendo capacidade de substituir à altura as tradicionais
assinaturas de exemplares e as vendas físicas em bancas e livrarias.
O
pagamento por parte das plataformas digitais pelo uso do conteúdo jornalístico
é muito justo e importante para a sobrevivência dos meios de comunicação, mas
outras formas de financiamento devem ser pesquisadas e implementadas,
principalmente no sentido de que os usuários, que são os principais beneficiários
do acesso às informações, também contribuam para a sustentação da mídia impressa.
O atual meio de assinaturas digitais mostra-se de difícil viabilização em vista
da existência de um número muito grande de geradores de notícias e informações,
de modo que ao usuário revela-se de grande complexidade a gerência individual de cada assinatura e o
encargo de arcar pelo pagamento de cada uma dessas assinaturas. Nesse sentido, se viável, dever-se-ia usar o
mecanismo de streaming, como faz o Netflix com a disponibilização do acervo de
filmes ao usuário. Com isso, mediante pagamento de uma mensalidade módica e justa,
o usuário poderia ter em único site acesso ao conteúdo dos diversos meios de
comunicação, e estes seriam remunerados proporcionalmente pelo acesso ao seu conteúdo
jornalístico, o que estimularia a
continuidade da geração de informes e análises relevantes tanto quantitativa
como qualitativamente.
Shoji
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