sábado, 9 de abril de 2022

COMO DINAMARCA SALVOU JUDEUS DO HOLOCAUSTO

O sentimento não discriminatório do povo dinamarquês foi fundamental para salvar os judeus nesse país escandinavo

Os horrores da fuga e morte de população civil inocente na invasão russa da Ucrânia despertam os fantasmas associados às piores catástrofes humanas como o Holocausto. Como se sabe, Holocausto, também conhecido como Shoá em hebraico, foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial, por meio de um projeto sistemático de extermínio étnico religioso executado pelo governo nazista alemão, liderado por Adolf Hitler, que ocorreu em todos os territórios europeus ocupados pela Alemanha e seus aliados e colaboradores durante a guerra. Dos 9 milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de 2 terços foram mortos, sendo cerca de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens judeus, configurando a maior tragédia orquestrada pelos homens na história da civilização humana.

No conceito mais amplo do termo Holocausto, o genocídio nazista contra os judeus fez parte de um conjunto mais amplo de atos de opressão e de assassinatos em massa cometidos pelo governo nazista contra vários grupos étnicos, políticos e sociais na Europa, estando entre as principais vítimas não judias do genocídio os ciganos, poloneses, comunistas, homossexuais, prisioneiros de guerra soviéticos, Testemunhas de Jeová, maçons e deficientes físicos e mentais.

 

a) Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto 27 de jan. de 2021 Sport Club Internacional

b) Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto ONU News 26.01.2022

Holocausto nos países ocupados pela Alemanha

Durante a guerra, a sistemática de assassinato de judeus no Holocausto alcançou grande parte desse povo que habitava os territórios europeus ocupados pelos nazistas alemães como na Polônia, onde se concentrava o maior contingente de judeus antes da guerra, de cerca de 3 milhões, dos quais somente 3% sobreviveram à guerra.

 Os judeus foram salvos na Dinamarca

A grande excessão entre os países ocupados pelos alemães foi a Dinamarca, onde do total de 7500 judeus residentes antes da invasão alemã do país em abril/1940, somente cerca de 120 judeus dinamarqueses morreram durante a guerra, ou seja pouco mais de 1%, conforme relatos em livros como “Compatriotas Como os judeus da Dinamarca fugiram dos nazistas e o surpreendente papel da SS”, de Bo Lidegaard.

 Fatores que levaram a salvação dos judeus dinamarqueses

Vários fatores explicaram essa milagrosa salvação dos judeus dinamarqueses do Holocausto.

Primeiro, foi o elevado grau de autonomia concedido às autoridades dinamarquesas pelos ocupantes alemães, decorrente inicialmente pelo fato da Dinamarca ter decidido não resistir à invasão alemã em abril/1940, por considerar totalmente inútil confrontar a esmagadora superioridade militar invasora, o que se tivesse ocorrido só teria resultado em derramamento de sangue inútil de combatentes dinamarqueses. A autonomia concedida foi decorrente também da percepção dos alemães que consideravam os escandinavos dinamarqueses como parte da raça superior ariana.

O segundo fator decorre do primeiro, pois a autonomia recebida dos alemães levou a recusa dissimulada dos oficiais e civis dinamarqueses em cooperar com a ordem nazista para discriminar, identificar e, ao final, prender e deportar a população judaica, como era a vontade da cúpula nazista em Berlim. A postura dos governantes dinamarqueses era decorrente basicamente do pensamento da maioria absoluta da população dinamarquesa que opunha a qualquer forma de discriminação e opressão, por fator racial ou religiosa, contra os judeus pois estes estavam bem integrados à sociedade democrática dinamarquesa há longo tempo como cidadãos responsáveis e ordeiros.

O terceiro fator está associado ao contexto político e militar da época de que a deportação em massa dos judeus poderia prejudicar o bom relacionamento com o governo dinamarquês na gestão da economia local, que era muito importante como fonte de insumos para o esforço de guerra alemão. Outro aspecto decorre do status da guerra claramente contrário à vitória alemã já naquela época, o que despertava o receio aos oficiais  alemães na Dinamarca de que a injustificada hostilização à população judia poderia levar no pós guerra à penalização por crimes contra a humanidade. Isso levou, inclusive a alguns oficiais alemães a alertar os representantes da comunidade judia sobre a possibilidade de deportação, o que de fato acabou ocorrendo a partir de 01.10.1943.

Mas de todos esses fatores, o mais importante foi a postura da população dinamarquesa, contrária à visão discriminatória contra os judeus, levando muito de seus habitantes a ajudar os judeus em fuga a se esconder e se alimentar enquanto aguardava as embarcações que partiam em direção à Suécia. A deportação dos judeus foi ainda dificultada pela recusa da polícia dinamarquesa em cooperar e até pela inércia de policiais alemães em aprisionar os judeus em fuga. Como resultado disso, apenas cerca de 470 judeus foram encontrados e deportados para Theresienstadt, mas desses praticamente todos voltaram vivos para a Dinamarca após a guerra.

 Lição da Dinamarca e Suécia para o mundo

A ação do povo dinamarquês em conjunto com a Suécia, que se dispôs a receber incondicionalmente os refugiados judeus, embora restrita a seus restritos territórios serviu como grande exemplo ao mundo, de que era possível opor à máquina de extermínio nazista. Maior contingente de judeus, que foram sistematicamente perseguidos a partir da ascensão ao poder pelos nazistas em 1933 e até o fim da guerra em 1945, poderia ter sido salvo, se mais países, inclusive o Brasil, ao menos, dispusessem a abrigar os judeus em busca de refúgio. 

Shoji 

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