Mesmo os trabalhos considerados mais humildes devem ser valorizados principalmente em tempo de pandemia
Um discípulo do Buda Shakyamuni, chamado Cudapanthaka, era estúpido a ponto de não conseguir memorizar o próprio nome. Apesar de fazer o seu melhor, a disciplina lhe era tão difícil que resolveu desistir do seu aprendizado. Quando estava saindo, Buda, movido pela compaixão, o chamou e o ordenou, dizendo-lhe: “Cudapanthaka, você vai ficar aqui e virado para o leste, recite repetidamente isto ‘Limpar a sujeira! Sujeira limpa! enquanto limpa as mãos com este pano branco”. Embora se esforçasse, ele não conseguia sequer memorizar essa frase, enquanto ele limpava suas mãos. Apesar da sua tentativa, o seu pano branco se tornava sujo por causa da sujeira de suas mãos, e mesmo com seu esforço para retirar a sujeira do pano, não conseguia torná-lo branco como antes.
Ao pedir desculpas ao Buda, este lhe respondeu que o pano se tornava sujo por causa da sujeira das suas mãos, e isso acontecia pela sujeira da sua mente. Diante disso, Cupanthaka respondeu: “Farei o meu melhor para limpar a minha sujeira e a sujeira de outros.” Ele começou a varrer e a limpar tudo, o jardim, salão principal, instalações sanitárias, sapatos, bolsas, roupas, etc, enquanto recitava “Limpar a sujeira! Sujeira limpa!”
Embora notassem a mudança no seu comportamento, os outros discípulos continuavam tratando-o como um tolo. Como ele vinha conquistando boa reputação, alguns discípulos tentaram testar Cudapanthaka e lhe pediram para fazer um discurso ao grupo. Na sua fala, ele disse ser uma pessoa tola, de modo que não tinha nada para ensinar, mas somente aquilo que ele lembrava e praticava sob orientação do Buda, que era de varrer e manter os locais e as coisas limpas. Os discípulos ficaram muito impressionados com a profunda compaixão na sua voz e se desculparam com ele.
Ref.: Autor desconhecidoTodo o trabalho é digno desde que seja probo e íntegro moralmente
O episódio de Cudapanthaka mostra claramente como todo trabalho é importante e deve ser respeitado como meio de realização humana e de valorização da dignidade de qualquer pessoa, viabilizando a sua evolução material, mental e espiritual, mesmo que não seja em sua plenitude.
Assim, mesmo os trabalhos considerados mais simplórios ou humildes, como o trabalho doméstico, a faxina, o cuidado dos idosos e doentes, etc. devem se valorizados desde que a pessoa a exerça com satisfação e lhe proporcione o mínimo de segurança material.
Entretanto, o trabalho deve ser compatível com a evolução moral, mental e espiritual da pessoa, individualmente, e da coletividade, como um todo. Ou seja, o trabalho pode proporcionar não somente satisfação pessoal, desde que seja exercida com sentimento de gratidão, mas ao mesmo tempo deve ser benéfico a alguém ou a terceiros, isto é, para a sociedade.
Quanto mais elevada a função maior a moralidade exigida
Obviamente, o trabalho que exige maior preparo intelectual tem potencial de proporcionar maior satisfação e segurança material, mas, em contrapartida, deve proporcionar maior benefício à sociedade, como ocorre por exemplo com os cargos políticos eletivos, os servidores públicos e os altos dirigentes e executivos. Ou seja, quanto maior a importância da função exercida, tanto maior deve ser o benefício a ser dado à sociedade.
O valor do trabalho não é proporcional somente ao esforço pessoal ou maior capacidade intelectual exigido ou ao maior retorno material propiciado, mas sim ao benefício oferecido à coletividade, pois mesmo as ações consideradas criminosas exigem muitas vezes dos seus praticantes alto preparo intelectual ou esforço pessoal, como são os casos dos crimes do colarinho branco ou daqueles de apropriação patrimonial ilegal, como os roubos e assaltos, que causam danos de grande monta à sociedade.
Enfim, o trabalho só será digno se for praticado de forma compatível com os preceitos da moralidade e da ética, ou seja, que traga satisfação e benefício à própria pessoa mas principalmente para a sociedade como um todo.
Shoji