sábado, 23 de janeiro de 2021

DIGNIDADE E VALOR DO TRABALHO

 Mesmo os trabalhos considerados mais humildes devem ser valorizados principalmente em tempo de pandemia

Um discípulo do Buda Shakyamuni, chamado Cudapanthaka, era estúpido a ponto de não conseguir memorizar o próprio nome. Apesar de fazer o seu melhor, a disciplina lhe era tão difícil que resolveu desistir do seu aprendizado. Quando estava saindo, Buda, movido pela compaixão, o chamou e o ordenou, dizendo-lhe: “Cudapanthaka, você vai ficar aqui e virado para o leste, recite repetidamente isto ‘Limpar a sujeira! Sujeira limpa! enquanto limpa as mãos com este pano branco”. Embora se esforçasse, ele não conseguia sequer memorizar essa frase, enquanto ele limpava suas mãos. Apesar da sua tentativa, o seu pano branco se tornava sujo por causa da sujeira de suas mãos, e mesmo com seu esforço para retirar a sujeira do pano, não conseguia torná-lo branco como antes. 

Ao pedir desculpas ao Buda, este lhe respondeu que o pano se tornava sujo por causa da sujeira das suas mãos, e isso acontecia pela sujeira da sua mente. Diante disso, Cupanthaka respondeu: “Farei o meu melhor para limpar a minha sujeira e a sujeira de outros.” Ele começou a varrer e a limpar tudo, o jardim, salão principal, instalações sanitárias, sapatos, bolsas, roupas, etc, enquanto recitava “Limpar a sujeira! Sujeira limpa!”

            Embora notassem a mudança no seu comportamento, os outros discípulos continuavam tratando-o como um tolo. Como ele vinha conquistando boa reputação, alguns discípulos tentaram testar Cudapanthaka e lhe pediram para fazer um discurso ao grupo. Na sua fala, ele disse ser uma pessoa tola, de modo que não tinha nada para ensinar, mas somente aquilo que ele lembrava e praticava sob orientação do Buda, que era de varrer e manter os locais e as coisas limpas. Os discípulos ficaram muito impressionados com a profunda compaixão na sua voz e se desculparam com ele. 

Ref.: Autor desconhecido

Todo o trabalho é digno desde que seja probo e íntegro moralmente 

O episódio de Cudapanthaka mostra claramente como todo trabalho é importante e deve ser respeitado como meio de realização humana e de valorização da dignidade de qualquer pessoa, viabilizando a sua evolução material, mental e espiritual, mesmo que não seja em sua plenitude. 

Assim, mesmo os trabalhos considerados mais simplórios ou humildes, como o trabalho doméstico, a faxina, o cuidado dos idosos e doentes, etc.  devem se valorizados desde que a pessoa a exerça com satisfação e lhe proporcione o mínimo de segurança material.  

Entretanto, o trabalho deve ser compatível com a evolução moral, mental e espiritual da pessoa, individualmente, e da coletividade, como um todo. Ou seja, o trabalho pode proporcionar não somente satisfação pessoal, desde que seja exercida com sentimento de gratidão, mas ao mesmo tempo deve ser benéfico a alguém ou a terceiros, isto é, para a sociedade. 

Quanto mais elevada a função maior a moralidade exigida

Obviamente, o trabalho que exige maior preparo intelectual tem potencial de proporcionar maior satisfação e segurança material, mas, em contrapartida, deve proporcionar maior benefício à sociedade, como ocorre por exemplo com os cargos políticos eletivos, os servidores públicos e os altos dirigentes e executivos. Ou seja, quanto maior a importância da função exercida, tanto maior deve ser o benefício a ser dado à sociedade.

O valor do trabalho não é proporcional somente ao esforço pessoal ou maior capacidade intelectual exigido ou ao maior retorno material propiciado, mas sim ao benefício oferecido à coletividade, pois mesmo as ações consideradas criminosas exigem muitas vezes dos seus praticantes alto preparo intelectual ou esforço pessoal, como são os casos dos crimes do colarinho branco ou daqueles de apropriação patrimonial ilegal, como os roubos e assaltos, que causam danos de grande monta à sociedade.   

Enfim, o trabalho só será digno se for praticado de forma compatível com os preceitos da moralidade e da ética, ou seja, que traga satisfação e benefício à própria pessoa mas principalmente para a sociedade como um todo.

Shoji



sábado, 16 de janeiro de 2021

A LUTA DA AYAAN HIRSI ALI PELA DIGNIDADE DA MULHER MUÇULMANA

O livro Infiel relata a trajetória da Ayaan Hirsi Ali contra a opressão do fundamentalismo islâmico

A vida de Ayaan Hirsi Ali, nascida em 1969 em Mogadíscio, na Somália,  é uma cristalina resposta de como é possível para uma mulher nascida em um dos países mais miseráveis e degradados da África superar todas as adversidades e chegar a grande notoriedade no Ocidente.  No livro Infiel, sua autobiografia precoce, Ayaan, aos 37 anos, narra a impressionante trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália, até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente. 

Ref,: a) Infiel - Ayan Hirsi Ali

5 de jan. de 2019 Antológico Books

b) Ayaan Hirsi Ali: A infiel do Islã

27 de abr. de 2013 Rodrigo Constantino

É uma vida de horrores, marcada na infância pela infibulação (circuncisão feminina), a forma mais radical da mutilação genital feminina (MGF), aos 5 cinco anos de idade, surras freqüentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura do crânio. É também uma vida de exílios, pois seu pai, quase sempre ausente, era um importante opositor da ditadura de Siad Barré. Por isso, a família fugiu para a Arábia Saudita, depois Etiópia, e fixou-se finalmente no Quênia. Obrigada a freqüentar escolas em muitas línguas diferentes e a conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia Saudita (onde as mulheres não saíam à rua sem a companhia de um homem) à mistura cultural do Quênia, a adolescente Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico como forma de manter sua identidade. 

Mas a guerra fratricida entre os clãs da Somália e a perspectiva de ser obrigada a casar com um desconhecido escolhido por seu pai, conforme tradição atávica que ela questionava, mudaram sua vida e ela acabou fugindo e se exilando na Holanda. Ayaan descobre então os valores ocidentais iluministas da liberdade, igualdade e democracia liberal, e passa a adotar uma visão cada vez mais crítica do islamismo ortodoxo, lutando especialmente contra a opressão e violência impostas à mulher na sociedade muçulmana fundamentalista. 

Em novembro de 2004, Ayaan Hirsi Ali passou por um dos fatos mais  dramáticos na sua conturbada trajetória, quando o cineasta Theo van Gogh foi morto a tiros em Amsterdã por um marroquino fanático, que em seguida o degolou e lhe cravou no peito uma carta em que anunciava Ayaan como sua próxima vítima, por ter feito com Theo o filme Submissão, acerca da opressão sobre a mulher muçulmana. Em 2003, essa jovem exilada somali, tinha sido eleita deputada do parlamento holandês e conhecida na Holanda por sua luta pelos direitos da mulher muçulmana e por suas críticas ao fundamentalismo islâmico, tornando-se famosa mundialmente. Em 2005, a revista Time a elegeu entre as 100 pessoas mais influentes do mundo.

Em 2006, convidada pelo American Enterprise Institute em Washington, Ayaan mudou-se para os Estados Unidos, onde as habituais ameaças de morte não cessaram. Por ter recebido o cartão de residente permanente nos EUA em 25.09.2007, o governo holandês deixou de custear a sua segurança no exterior. 

Em 2007, fundou a  AHA Foundation, uma organização sem fins lucrativos, baseada em Nova Iorque, originalmente para apoiar dissidentes muçulmanos, perseguidos ou prejudicados por esse fato, mas o escopo da organização foi ampliado em setembro/2008 para se concentrar nos direitos das mulheres. Assim, a Fundação AHA dedica-se ao combate aos crimes contra mulheres e meninas, como casamentos forçados, mutilação genital feminina e crimes de "honra".

A luta da Ayaan centra especialmente na importância de que milhões de mulheres e crianças em países de maioria muçulmana possam receber uma educação de qualidade, que os capacitem a entender e a participar ativamente da evolução humana que se encontra no limiar do século XXI, caracterizado para ser a era do conhecimento e pelo desenvolvimento científico e tecnológico de proporções inimagináveis. 

Shoji 


 

sábado, 9 de janeiro de 2021

MOTOBOY: GUERREIRO DO ASFALTO NA PANDEMIA

O consumidor deve colaborar para que a entrega seja concluída de forma mais rápida e segura para todas as partes

A pandemia do Covid-19 teve início no Brasil em 26.02.2020 com a primeira confirmação de infecção feita em São Paulo. Em função do risco do rápido alastramento, logo em seguida foram adotadas as medidas de distanciamento social e a prevenção de aglomerações humanas por exemplo com fechamento do comércio, escolas e outros estabelecimentos decretadas no Estado de SP a partir de 16.03.2020 e de 17.03.2020 no RJ, bem como em outras localidades do País.
Com o fechamento do comércio durante o período de confinamento, a venda e compra de bens passou a ser quase totalmente na forma digital. Somente poucos estabelecimentos como supermercados e o pequeno varejo de alimentos mantiveram as portas abertas na fase mais dura do isolamento social. 

Vídeo recebido no whattsapp autor desconhecido

Expansão do comércio online (eletrônico) e do delivery (entrega em domicílio)
Durante o período de isolamento social, o comércio eletrônico, que já vinha em alta há anos, cresceu em progressão geométrica no País. Com a flexibilização da quarentena e a reabertura com restrições do comércio, as vendas online continuaram em crescimento, com grande expansão da entrega em domicílio (delivery). O delivery que já  crescia solidamente na fase pré-pandemia ganhou um grande impulso em função do receio das pessoas de sair do confinamento e se expor ao contato social, principalmente para o pedido de comidas prontas.
Esse processo foi facilitado pela oferta de vários aplicativos como o IFood, Rappi, Loggi e Uber Eats, para entrega via diversas formas como bikes, patinetes, a pé, mas principalmente por meio das motos.  Ou seja, as ruas semi vazias passaram a ser tomadas pela ida e vinda frenéticas dos icônicos motoboys, que passaram a ser os verdadeiros guerreiros do asfalto. 

Relacionamento tenso entre motoboys e motoristas e pedestres
Há longo tempo se tornou rotineiro o relacionamento tenso entre motoboys e os motoristas, aqueles queixando que os motoristas não respeitam os motoboys, considerando-se principalmente a fragilidade das motos frente aos carros em acidentes que são comuns no caótico trânsito brasileiro. Mas os motoristas e os pedestres também se queixam dos motoboys por não respeitar devidamente as normas de trânsito, principalmente por transitar em alta velocidade fazendo muitas vezes zigue zagues entre os carros, aumentando o risco não somente de colisões com carros mas de atropelamentos de pedestres. 

Relacionamento entre motoboys e consumidores em delivery
São comuns diversas queixas dos consumidores sobre a prestação de serviços de entrega pelos motoboys e até em aplicação de eventuais golpes e fraudes contra clientes. De um lado, obviamente a prestação do serviço de delivery deve ser melhorada continuamente tanto pelo comércio ofertante de bens e serviços bem como pelos entregadores, com destaque aos polêmicos motoboys. 

O consumidor deve facilitar o trabalho do entregador
Mas, por outro lado, os consumidores devem colaborar e facilitar ao máximo a boa prestação do serviço de delivery, principalmente no caso de entrega de comidas prontas, que são altamente perecíveis e preferencialmente devem ser entregues quentes ou recém-preparadas.
De forma geral, o consumidor deve cooperar para que o serviço de entrega seja concluído de forma mais rápida e segura, o que é bom para todas as partes envolvidas, pois sempre tem que se ter em mente que o entregador enfrenta o trânsito, normalmente difícil, percorrendo muitas vezes locais inseguros ou de difícil acesso, condições que pioram à noite ou em caso de chuva ou de mau tempo. Para tanto, algumas atitudes simples seriam importantes pelo cliente, tais como:
preferencialmente, acompanhar por aplicativo o deslocamento do entregador;
deixar o celular ao alcance, caso o entregador queira fazer o contato para a confirmação ou chamamento, para evitar chamada do cliente pelo uso de voz alta, de palmas de mão ou de buzina;
agilizar o recebimento e o pagamento, tendo em mão a chave da casa, a carteira ao alcance com o cartão ou o dinheiro pronto, este se possível trocado;
facilitar o acesso ao local de entrega, avisando se possível o porteiro, ou no caso de casa, afastando por exemplo o cachorro, ou qualquer objeto ou obstáculo que possa dificultar a entrega;
no caso de prédio sem elevador, preferencialmente descer ao térreo para agilizar o recebimento da encomenda;
caso queira dar um referencial de localização, o que é importante em casas ou prédios com numeração de difícil visualização, indicar um de rápida identificação como uma loja, prédio, construção ou objeto que se destaca facilmente, e não por exemplo uma goiabeira dentro do quintal; 
não reclamar do entregador, caso não tenha um motivo realmente fundamentado para isso; e
essas providências são mais importantes em locais com restrições de acesso como condomínio fechado ou prédio sem porteiro ou sem elevador. 
Por fim, não custa agradecer ao entregador dizendo-lhe um sincero “muito obrigado”, ou em casos ou circunstâncias especiais, dando uma gorjeta de forma totalmente voluntária ou agradecida. 
Shoji 
  

sábado, 2 de janeiro de 2021

RIO DE JANEIRO SOB DOMÍNIO DO CRIME ORGANIZADO

 O crime organizado está se infiltrando no Estado

O editorial do jornal O Estado de SP, de 13.12.2020, pg. A-3, sob o título “Estado do crime” expressa  um gravíssimo alerta ao estado do RJ, mas que se pode estender a outras áreas do território brasileiro. Segundo o citado editorial, o fenômeno da máfia pode ser sintetizado em uma fórmula: “a polícia dos criminosos”. Transitando entre sociedades desservidas pelo Estado e organizações criminosas, as máfias vendem proteção às populações desassistidas e arbitragem às citadas organizações criminosas. Nessa posição privilegiada, os mafiosos expandem seu poder cooptando negócios legítimos para encobertar atividades criminosas e lavar seu dinheiro, ao mesmo tempo que se valem do mercado negro para vender serviços às populações marginalizadas. Assim, as milícias no RJ acabam se tornando não apenas a “polícia dos criminosos”, mas os “criminosos da polícia”.   

Narcotráfico: milícias do Rio expandem negócios e entram no mercado da cocaína

9 de dez. de 2020

Jornal da Record

Mapa do crime organizado no RJ

Segundo levantamento da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade de SP (USP), divulgado pela mídia em 19.10.2020, sobre o mapa do crime organizado no RJ, as milícias e o narcotráfico estão presentes em 96 dos 163 bairros da cidade do RJ, sendo 41 pelas milícias e 55 pelo narcotráfico. Nas áreas sob influência do crime organizado, vivem cerca de 3,76 milhões de pessoas, representando 55,7% do total de 6,75 milhões do município de RJ, sendo 2,1 milhões em áreas influenciadas pelas milícias e 1,5 milhões pelo narcotráfico. Essas cifras impressionantes mostram que o Estado paralelo dominado pelo crime organizado já é uma realidade em vasta parte do RJ, o que está ocorrendo também em outras regiões do País. 

Avanço das milícias no vácuo deixado pelo poder público

As milícias formam-se originalmente como “antagonistas do tráfico”. Mas uma vez consolidado o mercado de “proteção”, elas se expandem rapidamente em 2 sentidos: (i) a diversificação das atividades econômicas e (ii) infiltração em instâncias do poder público. Por um lado, os milicianos passam a cobiçar os negócios do narcotráfico e, por outro lado, os traficantes assimilam as estratégias das milícias. Há registro de atuação das milícias em serviços de transporte coletivo, gás, eletricidade, provedor de internet, agiotagem, cestas básicas, grilagem de terras, loteamento de terrenos, construção e revenda irregular de habitação, contratação de assassinatos, tráfico de drogas e armas, contrabando e roubo de cargas, receptação de mercadorias e revenda de produtos de diversos tipos. 

Além disso, o vínculo original das milícias com elites política e econômica locais se desdobra rápida e perigosamente para se infiltrar em instâncias do Estado. Na polícia, há indícios de indicações para cargos de comando, nomeação para chefia de batalhões, definição de focos prioritários de operações policiais e desenhos abrangentes de abordagem. 

Além das forças policiais, as milícias estão se infiltrando nos poderes executivo e legislativo. Segundo a Polícia Federal, há riscos ao processo eleitoral em pelo menos 18 estados federativos, em especial  aqueles com altos índices de violência, serviços públicos precários e corrupção policial. Assim, no RJ, é crescente o estreitamento de relações entre milicianos com o poder púbico. 

Em contraste com o crime organizado tradicional, as milícias transitam com muito mais liberdade entre a legalidade e a ilegalidade, entre o submundo, a sociedade civil e o poder público, diversificando e expandindo seus negócios com mais rapidez. A venalidade das milícias ultrapassou a dimensão da segurança pública e ameaça perverter o tecido civil e o próprio Estado. 

Incapacidade do atual aparato policial para repressão ao crime organizado

A rapidez e a diversidade  das formas da expansão do crime organizado exigem uma resposta igualmente rápida e diversificada. Além de uma atualização da legislação, é preciso extrapolar os meios convencionais de combate ao crime e investir em grupos especializados, novas táticas de inteligência e investigações. 

Os criminosos individualmente ou as quadrilhas em conjunto agem cada vez mais de forma organizada, em diversas localidades e em várias unidades federativas, em locais onde se sentem mais seguros de não sofrer a ação repressora do aparato policial. Com isso se torna cada vez mais difícil e menos eficaz a atual forma de atuação da força policial para a repressão aos crimes, não somente no RJ mas em várias partes do território nacional. No caso do RJ, as polícias estaduais civil e militar mostram-se praticamente incapazes para reprimir o crime organizado no território fluminense. 

O atual sistema policial no País não atinge os desejados níveis de eficiência e eficácia para a repressão à criminalidade.  Ao contrário, o sistema de segurança pública é totalmente anacrônico para o combate ao crime que, ao contrário, age cada vez mais de forma ampla, racional e principalmente com uso de meios e instrumentos tecnológicos cada vez mais avançados e sofisticados.

O sistema policial brasileiro mostra uma estrutura fragmentada nas 3 esferas federativas (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Legislativa, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Estadual e as Guardas Municipais), com estruturas e algumas funções superpostas, ao mesmo tempo que se deixam diversos vácuos ou zonas cinzentas, quanto à real jurisdição em termos da modalidade criminosa e a localização espacial onde o crime é praticado. Ademais, a coordenação de ações ocorre de forma fragilizada e esporádica, não permitindo, assim, a ação eficaz contra a criminalidade.   

Por essa razão, fracassou redondamente a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro adotada entre fevereiro/2018 até o fim de 2018, conforme o Decreto nº 9.288, de 06.02.2018, como medida emergencial para ao menos aliviar a gravíssima situação da segurança pública naquele Estado.

Necessidade de atuação integrada das forças policiais, preferencialmente na forma de  polícia nacional única

Para o combate ao crime organizado e à criminalidade de forma geral, cada vez mais é evidente a necessidade de uma estrutura de segurança pública com ações unificadas e coordenadas a nível local e nacional para qualquer modalidade de crime cometido em território nacional.

Certamente as dificuldades serão enormes, inclusive pela resistência política das atuais corporações e principalmente dos estados federativos, que podem achar que perderão poder, mas isso na realidade não ocorrerá, pois os estados continuarão tendo papel preponderante na definição das diretrizes e na priorização das ações por meio dos órgãos de coordenação. 

Mas uma coisa é certa, com o inevitável processo de globalização e da rápida evolução tecnológica, não há mais condições para o aparato policial brasileiro continuar atuando de forma segmentada e fragmentada, sem coordenação efetiva a nível nacional e até internacional, e sem contar com sistema de informações ampla, moderna e em tempo real, com o uso maciço de instrumentos tecnológicos de ponta.  

Shoji