A ameaça de
extinção não paira apenas sobre a maioria das espécies animais e vegetais existentes
no nosso planeta. A humanidade enfrenta também outra forma de extinção em massa:
a das línguas. Centenas, milhares de sistemas linguísticos já desapareceram ou
estão desaparecendo num ritmo acelerado. Quando uma língua morre, com ela morre
também uma visão de mundo absolutamente única. Com a língua que desparece perdemos
uma enorme herança cultural; o entendimento de como um grupo humano específico se
relaciona com o mundo e a natureza ao seu redor; conhecimentos médicos,
botânicos e zoológicos; e, ainda mais importante, perdemos a expressão do
humor, do amor e da vida como a viam e entendiam essas pessoas. Línguas diferentes mostram maneiras
diferentes da mente humana codificar as informações, entender e sistematizar o
mundo, a experiência, e são formas nunca pensadas por aqueles que falam, por
exemplo, uma língua de origem européia. Em resumo, perdemos o testemunho de vida
de um grupo humano de séculos, de milênios,
configurando uma perda de patrimônio cultural irreparável para a
humanidade.
A maior concentração de línguas faladas
encontra-se em áreas do planeta onde é maior a biodiversidade, em termos de
ecossistema ambiental e variedade de todas as formas de vida animal e vegetal.
Nas florestas pluviais tropicais, que hoje ocupam apenas 7% da superfície
terrestre, estão 36% dos grupos etnolinguísticos do mundo.
Nos últimos decênios, sob a influência da globalização e do rápido processo de modernização e de desenvolvimento econômico, estima-se que até o final do século 21 estarão extintas entre 50 e 90% das línguas atualmente em uso.
Nos últimos decênios, sob a influência da globalização e do rápido processo de modernização e de desenvolvimento econômico, estima-se que até o final do século 21 estarão extintas entre 50 e 90% das línguas atualmente em uso.
Os idiomas mais falados atualmente no
mundo são o chinês mandarim, inglês, espanhol, português, híndi/urdu, russo,
árabe, bengali, indonésio e japonês. O processo de globalização tende cada vez
mais a fortalecer as grandes línguas, como o inglês, hoje considerado uma
língua franca mundial. O fortalecimento dessas línguas fortes em alguns países
enfraquece paulatinamente os próprios idiomas locais, como ocorre nas Filipinas,
onde o inglês vem progressivamente substituindo os dialetos filipinos.
Importância da preservação e registro das línguas
ameaçadas de extinção
Para não se perder totalmente o imenso patrimônio
cultural representado pelas línguas em perigo de extinção, é imprescindível
documentar essas línguas, usando todo o cabedal tecnológico disponível, por
todas as formas possíveis, em texto, áudio, fotos e vídeo, de modo a viabilizar
a consulta e estudo das mesmas por qualquer pessoa interessada, principalmente
pelas pessoas falantes e pesquisadores e especialistas envolvidos na
preservação desses idiomas.
Nesse sentido, a Unesco, da ONU, lançou,
em 2017, em Paris, a versão eletrônica
do seu Atlas das línguas em perigo no mundo. Segundo esse organismo
internacional, das cerca de 6000 línguas existentes no mundo, mais de 2500 estariam
ameaçadas. Esse Atlas permite fazer pesquisas segundo vários critérios e classifica
as 2500 línguas em perigo, segundo 5 níveis de vitalidade diferentes
(vulnerável, estar em perigo, em grave perigo, em situação crítica e extinta, a
partir de 1950). Durante as 3 últimas
gerações, extinguiram-se mais de 200 línguas, 538 estão em situação crítica,
502, em grave perigo, 632, em perigo e 607, vulneráveis.
Soji Soja
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