A Mala de Hana merece uma repercussão tão grande como a do Diário de Anne Frank na luta contra as intolerâncias racial e religiosa
A mala de Hana é uma simplória mala que permitiu reviver a dramática e triste história real de sua dona, uma menina de somente 13 anos de idade, que foi uma entre as milhões de vítimas do Holocausto, o plano macabro de assassinato de judeus perpetrado pelos nazistas durante a II Guerra Mundial. Na frente da mala, em tinta branca, há nome de uma menina, Hana Brady, a data de nascimento (16.05.1931), e uma palavra em alemão “waisenkind”, que significa órfã. A dona da mala era uma garota chamada Hana Brady, que nasceu e morava na Tchecoslováquia no início da 2ª Guerra Mundial e sua vida foi relatada em romance biográfico pela escritora canadense Karen Levine, publicado em 2002.
A determinação da japonesa
Fumiko para desvendar a vida da Hana
Porém, a curta vida de Hana e sua
injustificada morte ficaria esquecida e jamais seria lembrada não fosse o
interesse despertado na japonesa Fumiko Ishioka, curadora de um pequeno museu
chamado Centro do Holocausto de Tokyo.
Em 1998, Fumiko havia começado
seu trabalho como coordenadora desse pequeno museu, dedicado a ensinar crianças
japonesas sobre o Holocausto. Para despertar maior interesse nas crianças, Fumiko
decidiu que o melhor era conseguir objetos que as crianças pudessem ver e tocar.
Após várias tentativas junto a museus judeus e do Holocausto em todo o mundo,
finalmente o Museu de Auschwitz enviou alguns objetos entre eles a mala com o
nome de Hana.
Fumiko e as crianças, ao abrirem
a mala, não acharam detalhes sobre a vida da sua dona. Diante da curiosidade
das crianças, Fumiko assumiu o compromisso de descobrir o que fosse possível sobre
a vida da Hana.
Depois das primeiras investigações,
conseguiu-se a informação do Museu de Auschwitz de que Hana tinha passado por
Theresienstadt, um campo de concentração de transição, antes de ser levada a Auschwitz.
Em julho de 2000, em busca no Museu do Gueto de Terezin, na atual República Tcheca,
descobriu-se que Hana tinha um irmão chamado George, que embora tenha sido
levado ao campo de Auschwitz, teria sobrevivido à Guerra e estaria residindo em
Toronto, no Canadá. Ao fazer contato com George em agosto/2000, finalmente foi
possível conhecer a trajetória da vida de Hana.
Hana, de fato, era uma menina tcheca
nascida em 16.05.1931, de uma família judia constituída dela, seus pais e o
irmão 2 anos mais velho, o George. Com a ocupação do país pela Alemanha nazista
em março/1939, a sua família passou a sofrer as terríveis restrições e proibições
impostas aos judeus. Judeus não podiam mais ir aos parques públicos, ao parque
de diversões e Hana que gostava de esquiar não podia mais praticar o seu
esporte favorito. As regras tornavam se cada vez mais rígidas e as crianças
judias não podiam mais ir à escola, o que frustrava o seu futuro de se tornar
professora. As amigas com quem passavam os momentos de alegria começaram a se
afastar tornando a sua vida cada vez mais solitária.
Em setembro/1941, seus pais foram
presos e Hana e George foram acolhidos pelos seus tios, mas em maio/1942 seus
tios não conseguiram evitar que eles fossem enviados ao campo de Theresienstadt.
Finalmente, em setembro/1944, Hana e George foram enviados a Auschwitz, onde
George, por ter um porte semelhante ao de um adulto, foi selecionado para trabalhar,
mas Hana não teve a mesma sorte e foi selecionada para a morte imediata na
câmara de gás, como ocorreu com outras centenas de milhares de vítimas.
Numa viagem a Polônia em
março/2004, Fumiko e George descobriram que a mala original havida sido destruída,
juntamente com outros objetos do Holocausto, num incêndio suspeito em Birmingham,
na Inglaterra, em 1984. Mas o museu de Auschwitz teve o cuidado de criar uma
réplica com base em uma fotografia, a qual finalmente chegou às mãos da Fumiko.
Todos os envolvidos na emocionante história da Hana ficaram gratos aos
curadores de Auschwitz por terem tido o trabalho de criar uma réplica tão fiel
da mala, pois sem ela Fumiko nunca teria conhecido a história da Hana.
Fumiko, George e a mala continuam
viajando para compartilhar a história de Hana e o livro A Mala de Hana está
sendo lido ao redor do mundo em mais de 20 línguas, para que a história da Hana
e sua família jamais seja esquecida.
Em função da dramaticidade
envolvida na história da Hana, a mala de Hana mereceria até uma sala especial,
por exemplo no museu de Auschwitz para divulgar mais amplamente o exemplo da
vida da Hana, merecendo até uma repercussão tão grande como a que teve o
célebre Diário de Anne Frank, em um esforço de todos para que os preconceitos e
violências que vitimaram crianças como a Hana Brady e Anne Frank nunca sejam
esquecidas e que jamais venham a se repetir.
Shoji