Motorola inclui as línguas Kaingang e Nheengatu no Android 11
A ameaça de extinção não paira apenas
sobre a maioria das espécies animais e vegetais existentes no nosso planeta, ou
seja, a humanidade enfrenta também outra forma de extinção em massa: a das
línguas. Centenas, milhares de sistemas linguísticos já desapareceram ou estão
desaparecendo num ritmo acelerado. Quando uma língua morre, com ela morre
também uma visão de mundo absolutamente única. Com a língua que desaparece perdemos
uma enorme herança cultural; o entendimento de como um grupo humano específico se
relaciona com o mundo e a natureza ao seu redor; conhecimentos médicos,
botânicos e zoológicos; e, ainda mais importante, perdemos a expressão do
humor, do amor e da vida como a viam e entendiam essas pessoas. Línguas diferentes mostram maneiras
diferentes da mente humana codificar as informações, entender e sistematizar o
mundo, a experiência, e são formas nunca pensadas por aqueles que falam, por
exemplo, uma língua de origem européia. Em resumo, perdemos o testemunho de vida de um grupo humano de
séculos, de milênios, configurando uma
perda de patrimônio cultural irreparável para a humanidade.
Importância da
preservação e registro das línguas ameaçadas de extinção
Para
não perder totalmente o imenso patrimônio cultural representado pelas línguas
em perigo de extinção, é imprescindível documentar essas línguas, usando todo o
cabedal tecnológico disponível, por todas as formas possíveis, em texto, áudio,
fotos e vídeo, de modo a viabilizar a consulta e estudo das mesmas por qualquer
pessoa interessada, principalmente pelas pessoas falantes e pesquisadores e
especialistas envolvidos na preservação desses idiomas.
Nesse sentido, a Unesco, da ONU, lançou,
em 2017, em Paris, a versão eletrônica do seu Atlas das línguas em perigo no
mundo. Segundo esse organismo mundial, das cerca de 6000 línguas existentes no
mundo, mais de 2500 estariam ameaçadas. Esse Atlas permite fazer pesquisas
segundo vários critérios e classifica as 2500 línguas em perigo, segundo 5
níveis de vitalidade diferentes (vulnerável, estar em perigo, em grave perigo,
em situação crítica e extinta, a partir de 1950). Durante as 3 últimas gerações, extinguiram-se
mais de 200 línguas, 538 estão em situação crítica, 502, em grave perigo, 632,
em perigo e 607, vulneráveis.
Com o mesmo propósito, o Google
lançou em 2012 um projeto que pretende documentar mais de 3 mil línguas
ameaçadas de extinção, sob o site "Idiomas em Risco".
Ref.:: a) Pela sobrevivência das línguas indígenas 11 de dez. de 2018 Pesquisa Fapesp
b) Celulares recebem teclado e ajustes com idioma indígena 1 de abr. de 2021 SUPREN
Ameaça às línguas indígenas no Brasil
Conforme Luciana Storto, professora do Departamento de
Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
(FFLCH-USP), antes do início da colonização européia, estima-se que existiam mais
de mil idiomas nativos no Brasil. Apesar da redução desde então, as cerca de
170 línguas indígenas faladas no país em 2019 devem ser objeto de intensos
esforços de preservação ao mesmo que constituem importante objeto de pesquisa
na área da linguística. Mas diante da possibilidade desses idiomas desaparecerem
em 50 ou 100 anos, linguistas dedicam-se não apenas a registrá-los, mas também
a trabalhar por sua sobrevivência, recorrendo a meios como edição de livros
escolares a dicionários, de sites em idiomas indígenas a corpus linguísticos digitais.
A população indígena no país tem crescido, chegando
atualmente a 896.917 indivíduos, segundo o IBGE, mas há cada vez menos falantes
dessas línguas, estimadas em 434.664.
Embora muitos povos não vivam em terras indígenas, a maior parte desses
falantes se concentra em áreas demarcadas, que ocupam 13% do território do país
o que favorece a preservação da língua e
da cultura dessas etnias.
Acesso a idiomas
indígenas nos smartphones
No escopo de colocar a tecnologia a favor da língua e da
cultura indígenas e no esforço adicional de incentivo ao uso de idiomas indígenas,
a Motorola anunciou, em 25.03.2021 a
inclusão de 2 idiomas indígenas em seus smartphones. Com isso, aparelhos da
empresa atualizados com sistema operacional Android 11 podem ter acesso às línguas Kaingang, falada por 30 mil pessoas no Sul e Sudeste do
Brasil, e Nheengatu, falada por 20 mil na Amazônia. A Motorola é a primeira
fabricante de smartphone a incluir idiomas indígenas em seus dispositivos, e esse
trabalho foi realizado em parceria com o professor Wilmar
D’Angelis, da Unicamp, e participantes das comunidades indígenas.
Shoji
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