Mais um avanço no entendimento entre as grandes religiões
O Papa Francisco iniciou em 03.02.2019, domingo, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), a primeira visita de um chefe da Igreja Católica à Península Arábica, berço do islamismo.
O Papa Francisco foi recebido pelo príncipe herdeiro de Abu Dhabi, xeque Mohamed bin Zayed al-Nahyan, e pelo imã de Al-Azhar, a instituição mais importante do Islã sunita, sediada no Cairo, Egito, xeque Ahmed al-Tayerbiman.
A grande contribuição dessa visita simbólica foi o aprofundamento no diálogo e maior entendimento entre as grandes religiões mundiais, o que pode reduzir a probabilidade de ocorrência de novos conflitos militares, principalmente no Oriente Médio.
Por quê nos Emirados Árabes Unidos
É significativo que essa visita tenha ocorrido no EAU, um país muçulmano considerado moderado e bastante aberto ao mundo exterior, e com perfil mais tolerante às outras religiões, como comprova o fato de que nos EAU vivem cerca de 1 milhão de católicos, aproximadamente 10% da sua população, embora a maioria deles sejam de trabalhadores asiáticos, principalmente das Filipinas e da Índia. Assim, o EAU é bastante diferente do seu grande vizinho, a Arábia Saudita, onde não se permite a prática de outra religião que não seja o islamismo.
Esforço para o fim da guerra no Iêmen
A visita papal também representou mais um esforço para terminar com a guerra no Iêmen, que opõe as forças pró-governo, apoiadas desde 2015 pela Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, aos rebeldes houthis xiitas, estes apoiados pelo Irã e que controlam amplas zonas do país, incluindo a capital Sanaa. Esse conflito que já dura quase 4 anos submete o povo iemenita à extrema violência e todas as suas consequências econômicas, sociais e de degradação humana.
Pena de morte por apostasia pode ser aplicada nos EAU
Também é importante destacar a visita aos EAU, onde acusações de blasfêmia e conversão de muçulmanos para outras religiões (apostasia) podem ser punidas com a morte.
De fato, de acordo com o relatório publicado em 2012 pelo Pew Research Centre, nos Estados Unidos, 94 dos 198 países do mundo têm leis que penalizam blasfêmia, apostasia e a difamação religiosa. Ou seja, a apostasia é vista como um dos crimes mais graves no mundo muçulmano, podendo ser punida com morte em 20 países: Egito, Irã, Iraque, Jordânia, Kuwait, Omã, Quatar, Arábia Saudita, Síria, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Afeganistão, Malásia, Maldivas, Paquistão, Camarões, Mauritânia, Nigéria, Somália e Sudão.
Como o islamismo é hereditário, filhos de um muçulmano são automaticamente considerados muçulmanos, o que lhes tira qualquer liberdade de optar ou não por essa religião.
Assim, muçulmanos que abandonam essa crença podem estar sujeitos a penalidades, que podem chegar a pena de morte, não somente no país de origem mas também em outro para onde ele tenha migrado, inclusive, em busca de maior segurança.
Isso cria um clima de insegurança ao convertido, mesmo em outro país, de modo que muitos que abandonam a crença muçulmana exercem a nova fé de forma secreta, em um ambiente de medo.
Não há justificativa para a pena de morte por apostasia
A pena capital deveria ser abandonada, e mesmo as demais consideradas mais brandas, pois a liberdade de pensamento e de exercício da fé religiosa deveria ser de exclusiva escolha de cada pessoa. Alguns bons exemplos estão surgindo, como ocorreu em Marrocos, que abandonou em 2017 a aplicação da pena capital em caso de apostasia, e espera-se que isso se espalhe por mais países.
Soji Soja
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