É impressionante
o relato de Yeonmi Park, jovem norte coreana de 22 anos, em seu livro “Para
poder viver – A Jornada de uma garota norte-coreana para a liberdade” – Companhias
das Letras, em sua fuga desesperada da Coréia do Norte, atravessando a fronteira para a China, depois para Mongólia
para chegar finalmente à Coréia do Sul.
Yeonmi Park não
sonhava com a liberdade quando fugiu da Coréia do Norte, pois nem conhecia o
significado dessa palavra. Tudo o que sabia ou sentia era que fugir era a única
forma de sobreviver. Se ela e sua família continuassem na terra natal, todos poderiam
morrer, de fome, adoentados ou mesmo executados.
Uma vida sem liberdade e a luta constante contra a pobreza
e fome
Yeonmi cresceu
achando normal que seus vizinhos desaparecessem repentinamente. Acostumou-se a
procurar e a comer plantas selvagens na falta de comida. Sobrepujada pela
propaganda e pelo total controle exercido pelo governo comunista da dinastia
Kim sobre a população norte coreana, ela acreditava que o líder de seu país era
até capaz de ler seus pensamentos.
Nessa época, Yeonmi
não tinha noção do regime de terror exercido pelo governo do jovem ditador Kim
Jong-un sobre a população coreana de 24 milhões de habitantes, por meio de
censura, vigilância sistemática sobre qualquer ato ou pensamento contrário ao
governo, aprisionamento em campos de trabalhos forçados e constante falta de
alimentos e outros bens essenciais.
Aos 13 anos,
quando a fome e a prisão do pai tornaram a vida praticamente impossível, Yeonmi
e sua mãe empreenderam a fuga atravessando a fronteira com a China, sem ter qualquer noção dos perigos que teriam
que enfrentar. Era o começo do périplo de quase 3 anos que a levaria pelo
submundo chinês de traficantes e contrabandistas de pessoas, principalmente de mulheres
para serem vendidas como “esposas” de camponeses chineses. Na luta cotidiana
pela sobrevivência, passou por constantes dramas como tentativas de estupro,
algumas das quais evitadas pela mãe, que se submetia ao sexo forçado em troca
da segurança da filha.
Finalmente a liberdade e a esperança de uma nova vida!
A jornada para a
liberdade envolveu a travessia pela China através do deserto de Gobi, em direção
à Mongólia e daí finalmente para a Coréia do Sul. Hoje, ela mora em Nova York
onde milita na organização Liberty in North Korea (LiNK), cuja missão é
transportar e abrigar refugiados norte coreanos.
Um
relatório da comissão de investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado
em 2014 detalha um esquema repressivo que utiliza sistematicamente a tortura, o
incentivo à delação de qualquer fato que contrarie as rígidas normas impostas
pelo regime totalitário, a falta de comida, as execuções, os sequestros e os
desaparecimentos para manter o povo norte coreano submisso e controlado. Ou
seja, segundo esse relatório, a gravidade, a escala e a natureza das violações
dos direitos humanos (documentadas) não têm paralelo no mundo
contemporâneo.
ATÉ QUANDO O MUNDO CONTINUARÁ IMPOTENTE DIANTE DE TÃO
FLAGRANTE PRÁTICA DE CRIMES CONTRA A HUMANIDADE?
Soji Soja
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