
Conforme comentários feitos por José Pio Martins, no jornal Gazeta do Povo, de 05.03.2015, 5ª feira, um dos mais extraordinários exemplos de crescimento econômico e superação da pobreza no pós-guerra é a Coreia do Sul. Em 1948, em seguida ao fim da II Guerra Mundial, a Coréia foi dividido em dois países: a Coreia do Norte, que permanece uma ditadura comunista miserável e atrasada até hoje; e a Coreia do Sul, que assombrou o mundo com seu desenvolvimento e continua dando lições como um dos países líderes em termos do crescimento científico e tecnológico.
De fato, a Coréia do Sul, com 50 milhões de habitantes e renda per capita de US$ 30 mil, contra US$ 11 mil do Brasil, é hoje um dos países mais desenvolvidos do mundo, que se destaca por sua moderna indústria nacional, alta tecnologia e elevado nível de bem-estar social. Com população 4 vezes maior, o Brasil não tem uma única marca de veículos genuinamente nacional, e somos compradores dos produtos modernos das coreanas Hyundai e Kia, além de outras gigantes como Samsung e LG.
Condições para o desenvolvimento econômico sul coreano
Após o fim da guerra contra a vizinha do norte, a Coreia do Sul abraçou o capitalismo sem pruridos ideológicos, enquanto o Brasil nunca foi verdadeiramente capitalista e sempre viu a economia de mercado com certa desconfiança. O governo coreano, ao contrário, definiu que seu escopo seria a fixação da estratégia de crescimento econômico e a criação de condições para a modernização capitalista, implementando para tanto as amplas reformas com base nessas duas diretrizes, o que permitiu o país a ter um surpreendente surto de desenvolvimento a partir dos anos 70.
O êxito coreano se deve, entre outros a 3 fatores fundamentais: (i) o programa educacional, com maciços investimentos na educação de base e no ensino técnico sem a cultura bacharelesca latino-americana; (ii) a abertura para o exterior e priorização de indústrias voltadas à exportação; e (iii) investimentos pesados em infraestrutura de transportes, comunicações e tecnologias de ponta.
A Coreia do Sul entendeu que o motor do crescimento econômico é a empresa, não o Estado, e que a figura central da criação de riqueza é o empreendedor, não o burocrata estatal. No ranking internacional, o país é considerado um dos mais inovadores do mundo, o que somente é possível pela valorização e respeito ao pesquisador, ao inventor, ao empreendedor e ao educador. Destaca-se ainda que a base da grande revolução coreana foi a educação. Ao dar ênfase à educação das mulheres, por exemplo, permitiu-se a formação de uma legião de trabalhadoras qualificadas, bem como a contenção da explosão populacional. Com a priorização da educação de base, propiciou-se a superação do analfabetismo e a aquisição contínua da competência técnica. Outra vertente adotada na década de 60 foi o fortalecimento do ensino técnico, por meio de colégios altamente qualificados, que propiciam aos jovens não somente a qualificação técnica mas a facilitação para encontrar emprego após a conclusão do ensino técnico. Dessa forma, 65% dos jovens coreanos entre 15 e 19 optam pelo ensino técnico, contra somente 9% no Brasil. Enfim, ao concentrar os escassos recursos no ensino tecnológico e no domínio da matemática e das ciências exatas, a formação maciça de trabalhadores tecnicamente preparados permitiu o lançamento do país ao sucesso econômico.
Economia de mercado desavergonhada no Brasil
Já o Brasil não se libertou da cultura bacharelesca, que valoriza mais as letras que a tecnologia, do apego subserviente ao Estado (que desconhece a expressão “satisfação do cliente”, mesmo vivendo à custa deste) e da aceitação envergonhada da economia de mercado. O sistema capitalista nunca foi plenamente adotado no Brasil, ao mesmo tempo que o seu principal ator, o empresário, continua sendo mal tratado. Ou seja, o Brasil nunca entendeu perfeitamente a lei da oferta e da procura, preferindo seguir acreditando, ingenuamente, que o Estado é o agente mais capaz para resolver todas as questões pendentes no sistema econômico.
Deve-se ressaltar ainda a excessiva valorização das chamadas carreiras da área jurídica, em detrimento das áreas das ciências exatas, aquelas mais essenciais relacionadas às áreas de tecnologia, conhecimento científico e de inovações, o que leva o País a se defasar ainda mais nessas áreas fundamentais para o desenvolvimento econômico e social sustentável e de longo prazo e melhoria da competitividade nacional frente aos concorrentes internacionais.
Enfim, o Brasil tem a fazer sua lição de casa e a aprender muito com a experiência coreana.
Soji Soja