sábado, 25 de março de 2023

FINALMENTE É APROVADO O TRATADO DO ALTO MAR

 Com isso 30% das áreas costeiras e oceanos poderão ser protegidos até 2030

O alto mar, também conhecido como águas internacionais, começa onde terminam as Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) dos países, limitadas no máximo a 200 milhas náuticas (370 km) das costas e, portanto, não estão sob a jurisdição de nenhum país. Ainda que represente mais de 60% dos oceanos e quase metade do Planeta, há muito que o alto mar é ignorado na luta ambiental, que tem se concentrado mais nas zonas costeiras e na proteção de algumas espécies emblemáticas. Com o progresso da ciência, entretanto, ficou provada a importância de proteger o alto mar, repleto de uma biodiversidade muitas vezes microscópica, que também fornece metade do oxigênio da Terra e combate o aquecimento global ao absorver parte do CO2 emitido pelas atividades humanas.  Apesar da importância do alto mar hoje somente 1% dessa área está protegida por medidas de conservação.

 

a) A Natureza está Falando | Rodrigo Santoro é O Oceano Conservação Internacional 2016

b) "O navio chegou à costa": Dia histórico para a conservação dos oceanos Euronews em Português 04.03.2023

Oceanos ameaçados

A negligência humana tem resultado em sérias ameaças aos mares pelas:

(i)     Mudanças climáticas: uma atmosfera mais quente significa um oceano mais quente, que afeta negativamente uma série de organismos e ecossistemas marinhos;

(ii)  Acidificação das águas, desoxigenação e branqueamento de corais: a acidificação é resultante do aumento do CO2 que reage com a água do mar alterando o seu PH, deixando a mais ácida; além da acidificação, o aquecimento global provoca a perda de oxigênio (desoxigenação), o que em conjunto com a acidificação e o aquecimento dos oceanos provoca mudanças dramáticas nos ecossistemas e biodiversidade marinha, com risco às populações marinhas e branqueamento de corais;

(iii)                        Pesca insustentável: a  sobrepesca é uma ameaça para a biodiversidade marinha e para  os ecossistemas aquáticos, por não levar em conta a capacidade de reposição das espécies exploradas, podendo acarretar até em extinção de espécies; e

(iv) Poluição plástica dos mares.

 O tratado internacional na proteção do alto mar

Mas esse quadro de descaso internacional da saúde do mar  começa a mudar radicalmente com a aprovação, em 04.03.2023, após 15 anos de intensas negociações, do 1º tratado internacional para proteção do alto mar, destinado a combater as ameaças aos ecossistemas vitais para a humanidade, de modo a buscar a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica marinha nos oceanos.

O tratado introduz a obrigação de se realizar avaliações de impacto ambiental das atividades propostas em alto mar, bem como o princípio da repartição dos benefícios dos recursos genéticos marinhos coletados em alto mar. Ou seja, os países em desenvolvimento que não dispõem de meios para financiar expedições e pesquisas caríssimas têm lutado para não serem excluídos do acesso aos recursos genéticos marinhos e da partilha dos lucros antecipados da comercialização desses recursos, que não pertencem a ninguém, dos quais as indústrias farmacêutica e cosmética esperam obter moléculas e componentes preciosos para os novos produtos.

 Objetivos a serem buscados pelo tratado do alto mar

O novo tratado entrará em vigor após ser formalmente adotado, assinado e ratificado por um nº suficiente de países, após o que serão criadas áreas marinhas protegidas nas águas internacionais, e isso será essencial para se alcançar o objetivo de proteger 30% das terras, áreas costeiras e oceanos do planeta até 2030, como se comprometeram todos os governos do mundo na COP15 da Biodiversidade em dezembro/2022 em Montreal, Canadá. Mas a proteção do alto mar não pode ficar apenas no discurso bonito, mas sim resultar em efetiva implementação de medidas para a proteção dos oceanos com vistas a salvar o Planeta da catástrofe ambiental em escala mundial.

Shoji

sábado, 11 de março de 2023

OLIMPÍADAS DE INVERNO 2029 NO DESERTO DA ÁRABIA SAUDITA

 Futurista Trojena será a primeira estação de esqui no deserto da Arábia Saudita

Em 04.10.2022, o Conselho Olímpico da Ásia (OCA) aprovou a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno da Ásia 2029 na Arábia Saudita.  A decisão é surpreendente pois o local escolhido, denominado resort Trojena, se localiza em pleno deserto arábico a 50 km da costa do Golfo de Aqaba, que ainda não existe mas está projetado para estar concluído em 2026, em uma área montanhosa com altitudes entre 1.500 metros a 2.600 metros. Além da estação de esqui ao ar livre, o resort Trojena terá um lago artificial de água doce, uma reserva natural e uma vila residencial anexa.



 Saudi Arabia's Winter Games in the Desert Top Luxury jan 2023

 

Trojena em conexão com a megacidade The Line no contexto do Projeto Neom

Trojena terá uma infraestrutura adequada para criar a atmosfera de inverno em pleno deserto para se tornar o 1º local da Arábia Saudita onde será possível esquiar ao ar livre com temperaturas de inverno que caiam abaixo de zero grau Celsius e estejam durante todo o ano 10 graus mais frias do que o resto da região.

O resort Trojena é uma das 10 regiões que estão sendo desenvolvidas como parte do projeto Neom da Arábia Saudita, que mais parece uma obra de ficção científica,  o qual será conectado à mega empreendimento The Line. Este, por sua vez, está sendo construído como componente importante do projeto Neom, abrangendo a cidade de carbono zero The Line, além de áreas conexas industriais e logísticas.

 

Desafios para tornar Trojena uma realidade

Tornar o resort Trojena uma realidade até 2026 é um grande desafio pois atualmente não existe ainda nenhuma infraestrutura construída na região. Embora as montanhas no local sejam mais frias do que em outros pontos do país, a ocorrência de neve não é tão frequente, pois nos últimos 5 anos, somente em 2 vezes o volume de neve foi em quantidade consistente para a prática do esqui. Desse modo, espera-se que no mínimo 70% da neve seja artificial, que provavelmente chegará a 100%, o que não seria fato inédito pois os Jogos de Inverno de Beijing em fevereiro/2022 só foi possível com 100% de neve artificial.

 

Prejuízo ambiental pelo uso de neve artificial mas não há outras opções

Fazer neve artificial não somente é caro mas é um processo que demanda muita água e energia, o que compromete a realização de jogos "verdes", com mínimo impacto ambiental. Outro ponto controverso é que a fabricação da neve artificial exige aditivos químicos ou biológicos para melhoria da sua qualidade e rendimento, no sentido de retardar o seu derretimento. Mas a água tratada quimicamente pode causar danos à biodiversidade e à vegetação e o derretimento lento, por sua vez, pode prejudicar o ciclo de crescimento das plantas. No caso de Trojena haverá um desafio adicional pois quase certamente para a fabricação de neve artificial será necessário bombear água dessalinizada a 50 km do Golfo de Aqaba.

Além disso, como a neve artificial tende a criar uma superfície mais dura e imprevisível, em que os equipamentos deslizam de forma mais rápida, configura-se maior risco aos atletas e usuários, e consequente elevação da chance da ocorrência de quedas e de acidentes mais graves.

Shoji

sábado, 4 de março de 2023

FLORESTA NA INDONÉSIA PEDE SOCORRO

 O Mundo corre contra o tempo para salvar o santuário ecológico na ilha de Sumatra

A rápida destruição das florestas tropicais pelo seu grande efeito na emissão de dióxido de carbono tem sido uma das principais causas para o aquecimento global. Nesse escopo, como detentores de 52% das florestas tropicais do mundo, Brasil, Indonésia e Congo lançaram em 14.11.2022 uma parceria de cooperação na preservação das florestas ainda remanescentes e na restauração da biodiversidade perdida.   


Ref.::Saving the Leuser Ecosystem Global Conservation jan/2023

Importância do Ecossistema Leuser para o Mundo

Na Indonésia, como detentor ainda da maior reserva florestal tropical da Ásia, destaca-se o Ecossistema Leuser, uma área florestal localizada na ilha de Sumatra. Com uma área de mais de 2,6 milhões de hectares, representa um dos sistemas florestais mais ricos e menos conhecidos do mundo, e sua vegetação é uma importante fonte de biodiversidade e de oxigênio da Planeta além de ser o último local na Terra onde o elefante da Sumatra, rinoceronte do  Sumatra, tigre e orangotango são encontrados em uma mesma área.

O Ecossistema Leuser se estende desde a costa do Oceano Índico até o Estreito de Malaca, abrangendo 2 vastas cadeias de montanhas, incluindo o Monte Leuser com  3.455m de altitude, 2 grandes vulcões, 3 lagos e mais de 9 grandes sistemas fluviais. Além de fornecer habitats para várias espécies selvagens ameaçadas de extinção, o ecossistema atua como um suporte de vida para aproximadamente 4 milhões de pessoas que vivem ao seu redor, fornecendo um suprimento constante de água, fertilidade do solo, controle de inundações, regulação do clima e mitigação de pragas.

 Expansão do cultivo do óleo de palma devasta a floresta nativa

O Ecossistema Leuser na ilha de Sumatra é uma das últimas florestas tropicais intactas da Ásia, o último lugar na Terra onde rinocerontes, orangotangos, elefantes e tigres ainda correm soltos, mas apesar de ser um Patrimônio Mundial da Unesco  está listada como uma área em risco devido à destruição contínua de sua floresta tropical. 

As principais ameaças a Leuser são a derrubada da mata para a expansão ilegal das plantações de óleo de palma, a extração ilegal de madeira e a caça ilegal de animais selvagens. 

Grandes incêndios anuais na estação seca devido à expansão ilegal de plantações de óleo de palma chegam a fechar escolas em locais distantes como Singapura a Jacarta, resultando em enormes perdas econômicas e problemas de saúde pública. A vida selvagem tem sofridos sérias perdas, restando menos de 50 rinocerontes de Sumatra, a  última população viável dessa espécie na Terra. Em 1920, havia mais de 100.000 tigres de Sumatra e hoje restam menos de 400.

 O Mundo corre para salvar a floresta tropical na Sumatra

A urgência para a necessidade de proteção e preservação do Ecossistema Leuser tem suscitado esforços de governos locais bem como de entidades internacionais. Entre essas, destaca-se a ação da Global Conservation que tem atuado no fornecimento de  financiamento, tecnologias, sistemas e treinamento críticos para proteger grandes florestas intactas e habitats críticos de vida selvagem, enquanto trabalha em estreita colaboração com as comunidades locais para desenvolver de forma sustentável o Ecossistema Leuser e permitir a proteção permanente segundo o lema “No Cut, No Kill”. Ou seja, o seu foco concentra-se na proteção do habitat da vida selvagem, remoção de plantações ilegais e operações madeireiras e combate à caça ilegal,  recorrendo a meios como patrulhas florestais Smart e uso de recursos tecnológicos como vigilância por drones, com o objetivo final de preservar o Ecossistema Leuser como parque nacional e Patrimônio Mundial da Unesco.

 

Ainda há tempo para salvar as grandes florestas tropicais?

O tempo para salvar as grandes florestas tropicais na Amazônia, Indonésia e Congo é cada vez mais curto mas para isso é imprescindível reduzir drástica e efetivamente o desmatamento, chegando à total cessação do desmatamento nos próximos anos. Adicionalmente, deve ser feito grande esforço para restaurar as coberturas florestais em áreas já mais fragilizadas de forma a preservar a grande biodiversidade ainda existente nessas áreas.

Shoji