Pichação ilegal se transforma em arte no espaço aberto urbano
No meio do cinza, em plena selva de pedras da cidade de São Paulo, a maior metrópole do Brasil e uma das maiores do mundo, destacam-se cada vez mais os murais gigantes, normalmente muito vivazes e coloridos, em dezenas de empenas cegas (fachadas laterais dos edifícios sem janelas) deixadas em branco desde a vigência em 2007 da Lei da Cidade Limpa, que restringiu a publicidade em imóveis urbanos na capital paulista. Somente ao longo do renomado viaduto Minhocão, por exemplo, há 23 murais prontos ou em produção, que se espalha também pelos arredores, como na Consolação e outros bairros, como Pinheiros. Pelas suas grandes dimensões, a elaboração desses murais exige investimento, não somente por uso de materiais e de equipamentos necessários, como também de outras despesas como o pagamento do aluguel da fachada, de modo que o seu custo total pode ultrapassar R$ 200 mil. Essas imensas telas viraram negócio, atraindo artistas, produtores, empresas patrocinadoras e responsáveis por edifícios interessados em faturar, bem como apoiadores do setor público.
Esse movimento deriva da descriminalização
do grafite, há 10 anos, que gradativamente foi transformando a pichação ilegal
em uma forma de arte popular, na medida que deixou de depredar os espaços públicos
e privados para se tornar espaço de manifestação de atributos artísticos. Ou
seja, vem incorporando uma elite econômica e cultural, que percebeu o valor artístico
do grafite, diferenciando o da pichação degradante.
Ref.: Festival de arte urbana: prédios viram telas para grafiteiros em SP 31 de ago. de 2020 Band Jornalismo
Apoio privado para melhoria da
imagem empresarial na criatividade urbana
As empresas interessam se em contratar
os produtores de murais por desejar associar sua imagem à ocupação criativa do
espaço urbano. Assim, por exemplo, a Veloe, unidade da Alelo para pagamento de
pedágios e estacionamentos, patrocinou 2 murais em 2019 para tornar a viagem
mais leve e agradável aos passageiros urbanos em vias com grande fluxo de tráfego.
Outro exemplo é o patrocínio da fintech Nubank, que em outubro 2019, contratou
7 painéis na quadra da sua sede situada na Rua Capote Valente, no bairro de Pinheiros.
Apoio do setor público
O grafite artístico em espaço aberto
pode contar também com apoio do setor público. Por exemplo, a prefeitura da
capital paulista apoiou em 2020 o Museu de Arte de Rua (MAR), no valor de R$
2,2 milhões, incluindo 12 novos murais em empenas, além de painéis em muros e
outros suportes.
Por se tratar de intervenção
urbana com considerável impacto visual, a montagem dos murais deve observar certos
requisitos:
·
Respeito à Lei da Cidade Limpa em vigor desde
2007, de modo que não podem exibir ou fazer referência a nomes, marcas, logos,
serviços ou produtos comerciais;
·
Vedação às mensagens de cunho ofensivo, discriminatório
ou pornográfico;
·
Necessidade da aprovação do proprietário do imóvel,
sendo no caso de edifício residencial, em reunião condominial; quando for em
bem público, é preciso informar o nome dos patrocinadores ou apoiadores;
·
A criação de murais em empenas cegas (fachadas
laterais sem janelas) não precisa de autorização prévia municipal em SP, desde
que não seja em bens públicos, tombados ou com alguma outra restrição.
Shoji
Nenhum comentário:
Postar um comentário