sábado, 19 de dezembro de 2020

HINOMARU - BANDEIRA DA RECONCILIAÇÃO

 A devolução de bandeira de ex-soldado expressa o sentimento de reconciliação entre familiares que mal se conheciam até então

Yosegaki Hinomaru, que em japonês significa bandeira da boa sorte, representava um tradicional presente que o soldado japonês recebia quando era convocado para as campanhas militares do então Império do Japão, principalmente durante a II Guerra Mundial. Yosegaki significa coleção de mensagens, e hinomaru, círculo em torno do sol, de modo que yosegaki hinomaru significa coleção de mensagens em torno do sol. Na bandeira nacional recebida, os familiares e amigos escreviam mensagens curtas expressando ao soldado desejos como de vitória, segurança ou simplesmente boa sorte.  

Nos campos de batalha no Pacífico, com a gradual derrota das forças japonesas perante as norte-americanas, as bandeiras da boa sorte frequentemente caíam nas mãos dos soldados americanos, muitas das quais foram guardadas como lembranças ou  souvenirs. Mas muitos dos ex-soldados americanos por alguma razão desenvolveram o sentimento de um dia devolver essas bandeiras ou outros objetos capturados aos familiares dos soldados japoneses mortos.

a) OBON SOCIETY: Give Peace a Chance

3 de jul. de 2020

OBON SOCIETY

b) US Vet Returns Japan Flag to Soldier's Family

15 de ago. de 2017

Associated Press

Obon Society e o retorno das bandeiras hinomaru aos familiares

A Obon Society de Oregon é uma organização humanitária fundada pelo casal Rex e Keiko Ziak, dedicada a prover oportunidade de reconciliação entre famílias envolvidas em guerras no passado mediante retorno de objetos pessoais capturados e guardados durante as operações de guerra. Entre esses objetos pessoais destacavam-se fotos, documentos, diários, espadas, mas principalmente os célebres Yosegaki Hinomaru.  

A fundação da Obon Society foi motivada pela própria experiência pessoal da Keiko, que em 2007 teve a bandeira hinomaru carregada pelo seu avô, considerado desaparecido em Birmânia, retornada à sua família. Na época a bandeira estava em mãos de um colecionador no Canadá, a qual foi trazida a Tokyo e deixada na recepção de um hotel, o qual após 1 ano de procura, conseguir localizar e devolver à sua família. Ao receber a bandeira, a mãe da Keiko expressou o sentimento de que finalmente o espírito do seu pai, por intermédio da bandeira, tinha retornado ao seu lar. 

Em 2015, 70 anos após o fim da II Guerra Mundial, o trabalho da Obon Society foi reconhecido pelo governo japonês como um importante instrumento de reconciliação e entendimento mútuos e de amizade entre os EUA e o Japão. Assim, em agosto de 2017, tinham retornado 108 bandeiras e mais de 295 estavam em processo ou em tentativa de devolução. 

O retorno da bandeira por Marvin Strombo à família Yasue em 2017

Entre as devoluções exitosas, destaca-se a história do veterano soldado americano do US Marine Marvin Strombo.  Em agosto de 2017, aos 93 anos, ele se tornou o primeiro veterano americano da guerra a devolver pessoalmente uma bandeira Yosegaki Hinomaru  à uma família japonesa, no caso aos 3 irmãos de Sadao Yasue, oficial japonês morto em 1944 na Batalha de Saipan.   Assim, 73 anos depois, finalmente a bandeira voltou ao seio da família Yasue, em uma cerimônia emocionante na vila de Higashi-Ishirakawa no Japão, em que se manifestou um verdadeiro sentimento de reconciliação entre os familiares que mal se conheciam até então.

Esse ato simples mas altamente simbólico parece indicar como as guerras, em último caso, são desencadeadas por líderes de governos, as quais acabam provocando verdadeiras tragédias humanas, muitas vezes, sem que as pessoas envolvidas tenham plena consciência das reais razões para o desencadeamento de conflitos armados nessas proporções entre países, povos e civilizações.  É um verdadeiro apelo emocionante para que a guerra seja evitada até o último recurso.

Shoji



sábado, 12 de dezembro de 2020

LEYLA HUSSEIN PRIMEIRA NEGRA REITORA DA UNIVERSIDADE ST ANDREWS

 Leyla Hussein destaca-se no combate à mutilação genital feminina que ela mesma sofreu aos 7 anos

Desde 02.11.2020, Leyla Hussein é a primeira mulher negra a ocupar o cargo de reitora da St. Andrew University, a mais antiga universidade da Escócia. Leyla, psicoterapeuta e professora, nasceu em Mogadíscio, capital da Somália, com passagem pela Arábia Saudita antes de a família emigrar para a Europa, foi eleita pelo voto direto de alunos e funcionários da instituição para um mandato de 3 anos à frente da mais importante universidade escocesa e a 3ª mais do Reino Unido, atrás apenas de Oxford e Cambridge.

Ref.:) FGM Survivor: Leyla Hussein's Story

6 de fev. de 2018

Global Citizen

Leyla é cidadã britânica e em 2019 foi nomeada membro da Ordem do Império Britânico (OBE) pela Rainha Elizabeth II por sua luta contra a mutilação genital feminina (MGF), sendo reconhecida internacionalmente pela dedicação para a eliminação dessa prática deprimente que ainda afeta parte da população feminina de vários países especialmente sob influência islâmica na África e Ásia.

Luta contra a mutilação genital feminina

A mutilação genital feminina (MGF) é a remoção ritualista de parte ou de todos os órgãos sexuais externos femininos, executada por um circuncisador tradicional com a utilização de uma lâmina de corte, com ou sem anestesia.  A prática tem raízes nas desigualdades de gênero, em tentativas de controlar a sexualidade da mulher e em ideias sobre pureza, modéstia e estética, sendo motivada por suposta questão de honra e por receio de que a não realização dessa intervenção possam expor as mulheres  à exclusão social. Além de expor essas meninas e mulheres a sofrimento e constrangimento injustificados, não são conhecidos quaisquer benefícios médicos dessa prática. 

Leyla Hussein é fundadora do Projeto Dahlia, pioneiro no Reino Unido no acolhimento e assistência médica e psicológica a mulheres e crianças vítimas de algum tipo de MGF e da organização Filhas de Eva (Daughters of Eve), que recebe informações a respeito de jovens e mulheres que estejam vivendo algum tipo de opressão por causa da mutilação genital. Ela mesma passou por essa prática quando tinha 7 anos de idade na Somália. De acordo com o Projeto Dhalia, mais de 210 milhões de mulheres vivem, hoje, mutiladas por essa prática, meio milhão delas só na Europa. A cada ano, ainda cerca de 3 milhões de meninas passam por esses procedimentos invasivos e traumáticos, que causam hemorragias, ataques cardíacos, disfunções sexuais e traumas psicológicos profundos. 

Esforço mundial pela eliminação da MGF

Desde a década de 1970 esforços internacionais têm sido feitos para abolir a mutilação genital feminina, no sentido de restringir ou tornar ilegal em grande parte dos países onde ainda é comum, mas ainda são grandes as dificuldades em fazer cumprir a lei.  Em 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu a mutilação genital feminina como violação de direitos humanos e votou de forma unânime pela intensificação dos esforços pela sua efetiva abolição.

Shoji