sábado, 15 de novembro de 2025

JOGADORAS AFEGÃS RESGATADAS DO TALIBÃ

 Afegãs desafiam a intolerância do regime talebã e mantem esperança de um dia voltar a representar o país oficialmente

Em outubro/2025 a FIFA propiciou oportunidade à seleção feminina afegã de futebol no exílio representar o seu país sob a sigla de Afghan Women United em torneio realizado em Marrocos denominado FIFA Unites, que contou com a participação também da Líbia, Chade e Tunísia. Esse evento foi de grande significado pois ocorreu 4 anos após a retomada do poder no Afeganistão pelo grupo fundamentalista talebã, que impôs série de restrições à liberdade das mulheres como a prática do futebol e de qualquer modalidade esportiva.

 


Ref.: After Taliban Ban, Exiled Afghan Women’s Football Team Plays Again on World Stage | APT 31.10.2025

Volta da seleção afegã no exílio após 4 anos e esperança de um dia retornar à casa

Para a composição da seleção afegã no exílio foram selecionadas 13 jogadoras refugiadas  na Austrália, 5 no Reino Unido, 3 em Portugal e 2 na Itália. Entre as jogadoras residentes na Austrália, destaca-se a goleira Fatima Yousifi, de 23 anos, titular e capitã na última competição oficial da seleção afegã, as eliminatórias para a Copa da Ásia de 2018. Assim, parte da seleção feminina afegã conseguiu se reagrupar na Austrália no início de 2022, firmando uma parceria com o clube Melbourne Victoryda A-League, tornando-se sua afiliada como Melbourne Victory FC AWT, que disputa a 6ª divisão feminina no país. Mesmo longe de casa, as jogadoras se mantem unidas na esperança de um dia poder representar o seu país oficialmente.

 

Resgate cinematográfico de jogadoras afegãs em ago 2021

A participação do futebol afegão no FIFA Unites está ligada diretamente ao resgate de parte da seleção feminina afegã que ocorreu em 2021 no mês seguinte à retomada do poder pelo grupo talebã imediatamente após a retirada das tropas americanas decretada pelo presidente Joe Biden em julho/2021, encerrando 20 anos de intervenção militar americano no país, o que levou pavor à população local obrigando parte dela a refugiar-se emergencialmente em outros países.

O resgate dessas jogadoras e seus familiares, em torno de 80 pessoas, que tinha somente o objetivo de sobrevivência, foi possível graças ao planejamento de uma equipe, que contava com a participação do ativista australiano de direitos humanos, ex-jogador de futebol, Craig Foster, mas foi cercado de uma dramaticidade digna de um filme de suspense pois tinha que ser realizado em um prazo muito exíguo sob o deadline para a evacuação que se encerrava em 30 de agosto daquele ano.

A retirada dessas jogadoras afegãs acabou sendo concluída em 24.08.2021, após a ação que envolveu o governo australiano que concedeu rapidamente o visto de refugiado, bem como de organismos internacionais como o sindicato mundial de jogadores (FifPro), Centre for Sports and Rights, na Suíça, e diversos ativistas com ligação direta com o esporte, como a ex-capitã da seleção afegã Khalida Popal, que vive hoje na Dinamarca.

 

Significado da seleção afegã no exílio

A volta das mulheres afegãs a um campo de futebol é mais do que um jogo. É um símbolo de resistência e um lembrete de que o esporte cumpre seu papel social quando é instrumento de liberdade e dignidade. Uma vitória dos direitos humanos no campo esportivo. O fato de o time competir como 'refugee team' e não como seleção oficial expõe o tamanho do problema: o apagamento institucional das mulheres no esporte afegão. Esse status tem implicações jurídicas e políticas profundas, porque significa que elas ainda não têm o direito pleno de representar o seu país.

Shoji

sábado, 8 de novembro de 2025

MEGAOPERAÇÃO CONTRA O COMANDO VERMELHO NO RJ

 População local apoia ação repressora contra o crime organizado

Em 28.10.2025 as polícias civil e militar do Rio de Janeiro realizaram uma megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha para cumprir mandatos de prisão contra membros do Comando Vermelho (CV), 30 deles de fora do RJ, identificados pela investigação realizada há longa data com o objetivo de conter a expansão territorial do CV não somente no RJ mas para as demais regiões do País.  Esses complexos desempenham papel central na estratégia de expansão do CV por sua localização privilegiada, próxima a vias expressas que facilitam o transporte de armas, drogas e homens armados para outras regiões da cidade. A ação mobilizou 2,5 mil homens da Polícias Civil e Militar e promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ). A ação resultou na morte de 117 suspeitos e também de 4 policiais, sendo considerada a mais letal já realizada pelas polícias do RJ. Segundo o Governo do RJ, dos 115 suspeitos mortos, 97 possuíam alguma passagem policial, com 95% deles com vinculação ao CV sendo 54% de fora do RJ.

Ref.: Romeu Zema fala sobre megaoperação no Rio e que governadores devem se reunir com Cláudio Castro Itatiaia 31.10.2025

 

Importância das ações de repressão ao crime organizado e apoio da população

Segundo pesquisa da Quaest, 64% dos moradores do RJ aprovaram a megaoperação realizadas nos complexos do Alemão e da Penha e são favoráveis que operações semelhantes venham a ser realizadas em comunidades, morros e favelas, o que denota a insatisfação e o cansaço dessa população em continuar vivendo sob o jugo e ameaça do crime organizado.

            A atuação da força policial contra o crime organizado é meritória e se mostra cada vez mais necessária inclusive como demonstração de que a autoridade governamental continua atenta e pronta para atuar e buscar a segurança pública à população. Mas, infelizmente, o aparato policial no Brasil não tem se mostrado eficaz nessa tarefa de suma importância para toda a sociedade.

 

Incapacidade do atual aparato policial para repressão ao crime organizado

A rapidez e a diversidade das formas da expansão do crime organizado exigem uma resposta igualmente rápida e diversificada. Além de uma atualização e adequação da legislação, é preciso extrapolar os meios convencionais de combate ao crime e investir em grupos especializados, novas táticas de inteligência e investigações. Os criminosos individualmente ou as quadrilhas em conjunto agem cada vez mais de forma organizada, em diversas localidades e em várias unidades federativas, em locais onde se sentem mais seguros de não sofrer a ação repressora do aparato policial. Com isso se torna cada vez mais difícil e menos eficaz a atual forma de atuação da força policial para a repressão aos crimes, não somente no RJ mas em todo o território nacional.

O atual sistema policial no País não atinge os desejados níveis de eficiência e eficácia para a repressão à criminalidade.  Ao contrário, o sistema de segurança pública é anacrônico para o combate ao crime que, ao contrário, age cada vez mais de forma ampla, racional e principalmente com uso de meios e instrumentos tecnológicos cada vez mais avançados e sofisticados.

O sistema policial brasileiro mostra uma estrutura fragmentada nas 3 esferas federativas (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Legislativa, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Estadual e as Guardas Municipais), com estruturas e algumas funções superpostas, ao mesmo tempo que se deixam diversos vácuos ou zonas cinzentas, quanto à real jurisdição em termos da modalidade criminosa e a localização espacial onde o crime é praticado. Ademais, a coordenação de ações ocorre de forma fragilizada e esporádica, não permitindo, assim, a ação eficaz contra a criminalidade.  

Necessidade de atuação integrada das forças policiais, preferencialmente na forma de  polícia nacional única

Para o combate ao crime organizado e à criminalidade de forma geral, cada vez mais é evidente a necessidade de uma estrutura de segurança pública com ações unificadas e coordenadas a nível local e nacional para qualquer modalidade de crime cometido em território nacional.  Para tanto é fundamental a criação e manutenção online de um sistema e banco de dados unificado para registro, prevenção e repressão ao crime (Sinfo), incluindo um banco de dados completo e atualizado do sistema penitenciário nacional, devendo o sistema ser atualizado continuamente e acessível online a qualquer momento e de qualquer lugar por qualquer membro da polícia no País para prevenção e repressão ao crime.

Certamente as dificuldades serão enormes, inclusive pela resistência política das atuais corporações e principalmente dos estados federativos, que podem achar que perderão poder, mas isso na realidade não ocorreria, pois os estados poderão continuar tendo papel preponderante na definição das diretrizes e na priorização das ações por meio dos órgãos de coordenação.

Mas uma coisa é certa, com o inevitável processo de globalização e da rápida evolução tecnológica, não há mais condições para o aparato policial brasileiro continuar atuando de forma segmentada e fragmentada, sem coordenação efetiva a nível nacional e até internacional, e sem contar com sistema de informações ampla, moderna e em tempo real, com o uso maciço de instrumentos tecnológicos de ponta para prevenção e repressão ao crime. 

Shoji

sábado, 1 de novembro de 2025

LHAKPA SHERPA RAINHA DO EVEREST

 Lhakpa escalou o Everest 10 vezes recorde mundial entre as mulheres

Lhakpa Sherpa nasceu em 1973 na região montanhosa do Himalaia no Nepal de uma família pobre de 11 irmãos. Lhakpa é conhecida como Rainha do Everest por ter escalado esse cume por 10 vezes um recorde entre as mulheres alcançado em maio/2022 (esse nº é raro mesmo entre os homens sendo o atual recorde de 31 vezes alcançado por Kami Rita Sherpa em 27.05.2025).

Lhakpa não teve educação formal pois na sua época as meninas sherpas não tinham praticamente essa oportunidade. Aos 15 anos, por não se resignar a ter uma vida caseira reclusa, resolver trabalhar como carregadora em equipe de alpinismo, função essa reservada quase somente aos homens.

 

Ref.: "Superando Limites: A Inspiradora História de Lhakpa Sherpa" Cura-te out 2024

Inesperada carreira como alpinista

Começava aí o seu convívio íntimo com os desafios da escalada das montanhas mais altas do mundo. Em 2000, foi escolhida como líder da Expedição do Milênio das Mulheres Nepalesas patrocinada pela Asian Trekking, tornando se a primeira mulher nepalesa a escalar o Monte Everest e voltar viva.

Em 2000 em Katmandu conheceu o alpinista romeno-americano George Dijmarescu com quem casou em 2002 e se mudou aos EUA onde George trabalhou na construção civil. Eles tiveram 2 filhas e juntos escalaram o Everest 5 vezes mas a vida conjugal era difícil pelo comportamento imprevisível e até violento do George, de modo que a união terminou após 12 anos. Para se sustentar, Lhakpa continua trabalhando em serviços exaustivos como na 7 Eleven e na Whole Foods Market. Pela sua discrição e simplicidade, poucos conheciam os seus atributos como alpinista.

 Feitos inspiradores para as mulheres sherpas e para o mundo

Mas a sua vocação e paixão sempre foi a expedição nas altas montanhas. Em 2003 juntamente com um irmão e uma irmã mais nova tornaram-se se os primeiros 3 irmãos a escalar o Everest. A sua carreira culminou com a 10ª escalada do Everest alcançada em 12.05.2022 e em seguida com a chegada em 27.07.2023 ao cume do K2 o 2º mais alto do mundo mas tecnicamente considerado mais difícil do que o Everest. Os seus feitos levaram em 2016 a ser eleita pela BBC entre as 100 mulheres mais inspiradoras do Mundo provando que tanto homens como mulheres são igualmente capazes de enfrentar grandes desafios e ter sucesso em tarefas desafiadoras como o montanhismo de alta altitude. Essa conquista não apenas demonstra a força de vontade, a diligência e a preparação da alpinista, mas também representa o potencial e a capacidade de todas as mulheres. Lhakpa hoje é conhecida como a Rainha do Everest, tema que acabou virando documentário feito pela Netflix em 2024.

Shoji

 

sábado, 18 de outubro de 2025

BAHÁ’I E A UNIÃO ESPIRITUAL DA HUMANIDADE

 O Bahaísmo é perseguido por ser considerado apostasia pelo islamismo

A fé Bahá'í, ou bahaísmo, é uma religião abraâmica monoteísta que enfatiza a união espiritual de toda a humanidade. Três princípios básicos estabelecem a base para os ensinamentos bahá'ís: a unidade de Deus, que há apenas um Deus que é a fonte de toda a criação; a unidade da religião, que todas as maiores religiões têm a mesma fonte espiritual e partem do mesmo Deus; e a unidade da humanidade, que todos os seres humanos foram criados igualmente e que a diversidade racial e cultural deve ser apreciada e aceita. Segundo os ensinamentos da fé bahá'i, o propósito humano é aprender a conhecer e a amar a Deus através de métodos como orações, reflexões e ajuda aos outros.

Na fé Bahá'í, a história religiosa da humanidade é manifestada através de mensageiros divinos, cada um dos quais estabeleceu uma religião adequada às necessidades da sua época e à capacidade das pessoas de então. Esses mensageiros vão de figuras abraâmicas como MoisésJesusMaomé, às dármicas, como Krishna e Buda. Para os bahá'is, os mensageiros mais recentes são o Báb e Bahá'u'lláh.

 

Reff.:Bahai persecution Iran youtube Bahaichannel out 2010

História do bahaísmo

A história do bahaísmo começa na Pérsia (atual Irã) em 1844, com o movimento do Báb, que prefigurou a vinda de Baháʼuʼlláh, a quem os baháʼís consideram o "Glorioso de Deus" e o mais recente "Manifestante de Deus" em uma linha de profetas como Moisés, Jesus e Maomé. Em 1863, Baháʼuʼlláh, declarou ser o missionário divino previsto pelo Báb e fundou o bahaísmo e em seguida foi exilado do Império Otomano para o atual Israel. Ele passou o resto de sua vida em um exílio voluntário em Akka, na Terra de Israel. Após o falecimento de Baháʼuʼlláh em 1892, a religião continuou a se expandir pelo mundo sob a liderança de seu filho, 'Abdu'l-Bahá, que serviu como o centro da aliança da fé. A nova fé, que se separou do Islã xiita, enfrentou forte perseguição no Irã, resultando na execução de milhares de seguidores do Báb. Desde a morte de Abdul-Bahá, a liderança da comunidade bahá'i entrou numa nova fase, passando de um único líder para uma ordem administrativa com órgãos eleitos e indivíduos indicados. Hoje, há mais de 5 milhões de bahá'ís espalhados por mais de 200 países e territórios.

 Essência do bahaísmo

Os bahá'ís acreditam que o ser humano possui uma "alma racional", que provê à espécie uma capacidade única de reconhecer a Deus e a relação da humanidade com seu criador. Todo ser humano é considerado possuidor do dever de reconhecer a Deus através de seus Mensageiros e dos ensinamentos deles. Através do reconhecimento e da obediência, serviço à humanidade e práticas espirituais, os bahá'ís acreditam que a alma pode se aproximar de Deus, o ideal da crença. Quando um ser humano morre, a alma continua existindo no mundo espiritual, onde seu desenvolvimento espiritual no mundo físico torna-se base para julgamento e progresso no mundo espiritual. O céu e o inferno são vistos como estados espirituais de proximidade ou distância de Deus, sendo indicadores da relação nesse mundo e no próximo, e não lugares físicos de recompensa e punição alcançados após a morte.

Os textos bahá'ís enfatizam a igualdade essencial dos seres humanos e a abolição de todos as formas de preconceito. A humanidade é considerada essencialmente una, embora diversificada; esta diversidade de raça e cultura é considerada merecedora de apreciação e tolerância. Doutrinas de racismo, nacionalismo, castas, e classes sociais são impedimentos artificiais da unidade. Os ensinamentos bahá'ís declaram que a unificação da humanidade deve ser assunto principal sobre as condições religiosas e políticas no tempo presente.

 Perseguição aos bahá’is

As crenças bahá'ís são usualmente descritas como combinações sincréticas das primeiras crenças religiosas. Os bahá'ís, no entanto, asseguram que a sua religião é uma tradição distinta, com suas próprias escriturasensinamentosleis e história. Inicialmente a religião foi vista como uma seita do Islã, mas atualmente a maioria dos teólogos a vêem como uma religião independente que tem como pano de fundo o islamismo xiita e cuja origem é análoga ao contexto judaico em que o cristianismo foi estabelecido. As instituições e o clero muçulmano, tanto sunita quanto xiita, consideram os bahá'ís como desertores ou apóstatas da fé islâmica, o que tem levado à perseguição de bahá'ís. Os próprios bahá'ís atestam que sua fé é uma religião independente, que se difere das outras tradições no que diz respeito a sua idade e aos ensinamentos de Bahá'u'lláh num contexto moderno.

 Dura repressão pelo regime islâmico do Irã

Em relatório publicado em abril/2024, o Human Rights Watch documenta a violação sistemática dos direitos fundamentais dos membros da comunidade bahá’í por meio de leis e políticas discriminatórias pelas autoridades iranianas. As agências governamentais arbitrariamente prendem e encarceram pessoas bahá’ís, confiscam suas propriedades, restringem suas oportunidades de educação e emprego e até mesmo lhes negam um enterro digno, privando os bahá’ís de seus direitos fundamentais em todos os aspectos de suas vidas, não em razão de suas condutas, mas simplesmente por sua escolha  religiosa.

Os bahá’ís são a maior minoria religiosa não reconhecida no Irã e tem sido alvo de  dura repressão apoiada pelo Estado desde que sua religião foi estabelecida no século 19. Após a revolução de 1979, as autoridades iranianas executaram ou forçaram o desaparecimento de centenas de bahá’ís, principalmente suas lideranças comunitárias. Outros milhares perderam seus empregos e pensões ou foram forçados a deixar suas casas ou o país. Ou seja, desde 1979, a República Islâmica do Irã codificou sua repressão aos bahá’ís na lei e na política oficial do governo, vigorosamente aplicada pelas forças de segurança e autoridades judiciais, rotulando os bahá’ís como uma minoria religiosa proibida e uma ameaça à segurança nacional. O drama dos bahá’is sob o regime islâmico iraniano é relatado sob testemunho ocular de Olya Roohizadegan em seu livro “A História de Olya” editado em inglês em 1993.

Shoji