Afegãs desafiam a intolerância do regime talebã e mantem esperança de um dia voltar a representar o país oficialmente
Em outubro/2025 a FIFA propiciou
oportunidade à seleção feminina afegã de futebol no exílio representar o seu
país sob a sigla de Afghan Women United em torneio realizado em Marrocos
denominado FIFA Unites, que contou com a participação também da Líbia,
Chade e Tunísia. Esse evento foi de grande significado pois ocorreu 4 anos após
a retomada do poder no Afeganistão pelo grupo fundamentalista talebã, que impôs
série de restrições à liberdade das mulheres como a prática do futebol e de
qualquer modalidade esportiva.
Ref.: After Taliban Ban, Exiled Afghan Women’s
Football Team Plays Again on World Stage | APT 31.10.2025
Volta da seleção afegã no exílio
após 4 anos e esperança de um dia retornar à casa
Para a composição da seleção afegã
no exílio foram selecionadas 13 jogadoras refugiadas na Austrália, 5 no Reino Unido, 3 em Portugal
e 2 na Itália. Entre as jogadoras residentes na Austrália, destaca-se a goleira
Fatima Yousifi, de 23 anos, titular e capitã na última competição oficial da
seleção afegã, as eliminatórias para a Copa da Ásia de 2018. Assim, parte da
seleção feminina afegã conseguiu se reagrupar na Austrália no início de 2022,
firmando uma parceria com o clube Melbourne Victory, da
A-League, tornando-se sua afiliada como Melbourne Victory FC AWT,
que disputa a 6ª divisão feminina no país. Mesmo longe de casa, as
jogadoras se mantem unidas na esperança de um dia poder representar o seu país oficialmente.
Resgate cinematográfico de
jogadoras afegãs em ago 2021
A participação do futebol afegão no
FIFA Unites está ligada diretamente ao resgate de parte da seleção
feminina afegã que ocorreu em 2021 no mês seguinte à retomada do poder pelo
grupo talebã imediatamente após a retirada das tropas americanas decretada pelo
presidente Joe Biden em julho/2021, encerrando 20 anos de intervenção militar americano
no país, o que levou pavor à população local obrigando parte dela a refugiar-se
emergencialmente em outros países.
O resgate dessas jogadoras e seus
familiares, em torno de 80 pessoas, que tinha somente o objetivo de
sobrevivência, foi possível graças ao planejamento de uma equipe, que contava
com a participação do ativista australiano de direitos humanos, ex-jogador de
futebol, Craig Foster, mas foi cercado de uma dramaticidade digna de um filme
de suspense pois tinha que ser realizado em um prazo muito exíguo sob o deadline
para a evacuação que se encerrava em 30 de agosto daquele ano.
A retirada dessas
jogadoras afegãs acabou sendo concluída em 24.08.2021, após a ação que envolveu
o governo australiano que concedeu rapidamente o visto de refugiado, bem como
de organismos internacionais como o sindicato mundial de jogadores (FifPro), Centre
for Sports and Rights, na Suíça, e diversos ativistas com ligação direta
com o esporte, como a ex-capitã da seleção afegã Khalida Popal, que vive hoje na
Dinamarca.
Significado
da seleção afegã no exílio
A volta das
mulheres afegãs a um campo de futebol é mais do que um jogo. É um símbolo de
resistência e um lembrete de que o esporte cumpre seu papel social quando é
instrumento de liberdade e dignidade. Uma vitória dos direitos humanos no campo
esportivo. O fato de o time competir como 'refugee team' e não como seleção
oficial expõe o tamanho do problema: o apagamento institucional das mulheres no
esporte afegão. Esse status tem implicações jurídicas e políticas profundas,
porque significa que elas ainda não têm o direito pleno de representar o seu
país.
Shoji