Lago Urmia reproduz o desastre ocorrido no Mar de Aral
O Mar de Aral, situado na Ásia Central, entre o Cazaquistão
e o Uzbequistão, era até 1960, o quarto maior lago do mundo, com 68.000 km2.
Hoje, entretanto, sua área está reduzida a menos de 10%, e acabou ganhando
notoriedade como sendo o triste retrato de uma das maiores catástrofes
ambientais do Mundo, fruto basicamente da ação humana imprevidente e
desastrada.
Processo de encolhimento do Mar de Aral
A morte trágica do Mar de Aral
começou basicamente ao fim da 1ª Guerra Mundial quando o então governo
comunista soviético começou a desviar parte das águas dos rios que alimentavam
o mar de Aral para aumentar a produção de alimentos. Na
década de 1930 e 40, os soviéticos reforçaram o plano de transformar a região
em uma grande produtora de algodão com a construção
dos canais de irrigação que captavam água dos afluentes do mar de Aral, processo esse que se acentuou mais ainda a partir dos
anos 1960.
Efeitos
ambientais e econômicos desastrosos no Mar do Aral
A quantidade de água retirada dos
rios que abasteciam o mar de Aral duplicou entre 1960 e 2000, assim como a
produção de algodão. Nesse período, o Uzbequistão tornou-se
o 3º maior exportador de algodão do mundo, porém a um custo muito alto. Por
efeito da redução do volume de água, a salinidade do
lago quase quintuplicou e matou a maior parte de sua fauna e flora naturais. A outrora
próspera indústria pesqueira foi praticamente destruída, assim como as cidades
ao longo das margens, gerando desemprego e dificuldades econômicas, o que é
muito visível pela abundância de esqueletos de navios e instalações portuárias
abandonadas.
Além da redução drástica da área
do Mar, as suas águas também ficaram fortemente poluídas,
como resultado de testes com armamentos e projetos industriais, e o uso maciço
de pesticidas e fertilizantes.
As pessoas passaram a sofrer com a falta de água doce e as culturas na região
foram prejudicadas pelo sal depositado sobre a terra. Além disso, o vento passou a dispersar
o sal a partir do solo seco e poluído, causando danos à saúde pública.
Lago Urmia no Irã reproduz o
desastre no Mar do Aral
O Lago Urmia, nome que em aramaico
significa cidade da água, é um dos principais lagos salgados do Irã, que chegou a
ser o maior lago do Oriente Médio e o 6º maior lago endorreico do Mundo, ou
seja, entre os lagos que não tem conexão com o mar. Situa-se na parte noroeste
do país, perto das fronteiras com o Iraque, Turquia, Azerbaijão e Armênia, com área de 5.200 km², comprimento e largura máximos
de 140 km e 55 km, mas acabou sofrendo um processo de degradação ambiental e
econômica bastante semelhante ao do Mar de Aral.
A partir dos meados de 1990
começou a secar e, ao final de 2017, o lago havia encolhido para 10% de seu
tamanho original devido a fatores como secas
prolongadas e persistentes no Irã, mais recentemente agravadas com o processo
de aquecimento global, mas principalmente pela má gestão da água, com a
construção indiscriminada de barragens para irrigação que reduziram o fluxo de
água doce para o lago e ao bombeamento de água
subterrânea da área circundante.
Má gestão da água pelo regime
islâmico
A má gestão acentuou-se após
a revolução islâmica de
1979, com a queda da monarquia do xá Reza Pahlavi, quando no bojo da política
de alcançar a autossuficiência alimentar foi induzida a produção de alimentos
básicos mediante a implantação descontrolada de sistemas de irrigação em todos
os afluentes do Lago Urmia.
Apesar de esforços do governo iraniano
para reverter sua quase completa secagem,
inclusive com o desvio de leitos de água para o lago, imagens recentes
em 2025 mostram o lago com cores avermelhadas por microalgas devido à
alta salinidade, em processo de recuperação do espelho d'água, mas ainda bastante
abaixo do tamanho original, enfrentando desafios contínuos de seca e uso da
água.
Situação atual degradante e difícil
processo de recuperação
Hoje o lago é dominado por grandes
áreas de leito seco, com enorme volume de sal, que causam tempestades de poeira
salgada, afetando a saúde respiratória e ocular da população local. Toda a
infraestrutura instalada na época áurea do lago como espaço econômico e
turístico relevantes, com resorts e embarcações que antes eram populares agora
estão encalhados e enferrujados no deserto de sal, como testemunho da
degradação sofrida no passado recente. Há esperança entre os habitantes locais,
com a água retornando a áreas antes secas, mas a restauração completa é um
processo demorado e complexo, em função de décadas de política insustentável que
o Lago Urmia sofreu.
Lições a serem tiradas dos desastres do Mar
de Aral e do Lago Urmia
A grande lição a ser tirada desses 2 desastres ambientais
é que a exploração de recursos naturais deve ser feita de maneira parcimoniosa
e cuidadosa, observando e
respeitando os seus limites e as leis
científicas que regem a existência e o
funcionamento deste planeta chamado Terra.
Shoji
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