sábado, 13 de dezembro de 2025

LAGO URMIA ESTÁ SECANDO

 Lago Urmia reproduz o desastre ocorrido no Mar de Aral

O Mar de Aral, situado na Ásia Central, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, era até 1960, o quarto maior lago do mundo, com 68.000 km2. Hoje, entretanto, sua área está reduzida a menos de 10%, e acabou ganhando notoriedade como sendo o triste retrato de uma das maiores catástrofes ambientais do Mundo, fruto basicamente da ação humana imprevidente e desastrada. 

 

Processo de encolhimento do Mar de Aral

A morte trágica do Mar de Aral começou basicamente ao fim da 1ª Guerra Mundial quando o então governo comunista soviético começou a desviar parte das águas dos rios que alimentavam o mar de Aral para aumentar a produção de alimentos. Na década de 1930 e 40, os soviéticos reforçaram o plano de transformar a região em uma grande produtora de algodão com a construção dos canais de irrigação que captavam água dos afluentes do mar de Aral,  processo esse que se acentuou mais ainda a partir dos anos 1960.

Ref.: O LAGO que QUASE secou - Lago Úrmia Gustavo Serraiocco dez 2021

 

Efeitos ambientais e econômicos desastrosos no Mar do Aral

A quantidade de água retirada dos rios que abasteciam o mar de Aral duplicou entre 1960 e 2000, assim como a produção de algodão. Nesse período, o Uzbequistão tornou-se o 3º maior exportador de algodão do mundo, porém a um custo muito alto. Por efeito da redução do volume de água, a salinidade do lago quase quintuplicou e matou a maior parte de sua fauna e flora naturais. A outrora próspera indústria pesqueira foi praticamente destruída, assim como as cidades ao longo das margens, gerando desemprego e dificuldades econômicas, o que é muito visível pela abundância de esqueletos de navios e instalações portuárias abandonadas.

Além da redução drástica da área do Mar, as suas águas também ficaram fortemente poluídas, como resultado de testes com armamentos e projetos industriais, e o uso maciço de pesticidas e fertilizantes. As pessoas passaram a sofrer com a falta de água doce e as culturas na região foram prejudicadas pelo sal depositado sobre a terra. Além disso, o vento passou a dispersar o sal a partir do solo seco e poluído, causando danos à saúde pública.

 

Lago Urmia no Irã reproduz o desastre no Mar do Aral

O Lago Urmia, nome que em aramaico significa cidade da água, é um dos principais lagos salgados do Irã, que chegou a ser o maior lago do Oriente Médio e o 6º maior lago endorreico do Mundo, ou seja, entre os lagos que não tem conexão com o mar. Situa-se na parte noroeste do país, perto das fronteiras com o Iraque, Turquia, Azerbaijão e Armênia,  com área de 5.200 km², comprimento e largura máximos de 140 km e 55 km, mas acabou sofrendo um processo de degradação ambiental e econômica bastante semelhante ao do Mar de Aral.

A partir dos meados de 1990 começou a secar e, ao final de 2017, o lago havia encolhido para 10% de seu tamanho original devido a  fatores como secas prolongadas e persistentes no Irã, mais recentemente agravadas com o processo de aquecimento global, mas principalmente pela má gestão da água, com a construção indiscriminada de barragens para irrigação que reduziram o fluxo de água doce para o lago e ao bombeamento de água subterrânea da área circundante.

 

Má gestão da água pelo regime islâmico

A má gestão acentuou-se após a revolução islâmica de 1979, com a queda da monarquia do xá Reza Pahlavi, quando no bojo da política de alcançar a autossuficiência alimentar foi induzida a produção de alimentos básicos mediante a implantação descontrolada de sistemas de irrigação em todos os afluentes do Lago Urmia.

Apesar de esforços do governo iraniano para reverter sua quase completa secagem,  inclusive com o desvio de leitos de água para o lago, imagens recentes em 2025 mostram o lago com cores avermelhadas por microalgas devido à alta salinidade, em processo de recuperação do espelho d'água, mas ainda bastante abaixo do tamanho original, enfrentando desafios contínuos de seca e uso da água. 

 

Situação atual degradante e difícil processo de recuperação

Hoje o lago é dominado por grandes áreas de leito seco, com enorme volume de sal, que causam tempestades de poeira salgada, afetando a saúde respiratória e ocular da população local. Toda a infraestrutura instalada na época áurea do lago como espaço econômico e turístico relevantes, com resorts e embarcações que antes eram populares agora estão encalhados e enferrujados no deserto de sal, como testemunho da degradação sofrida no passado recente. Há esperança entre os habitantes locais, com a água retornando a áreas antes secas, mas a restauração completa é um processo demorado e complexo, em função de décadas de política insustentável que o Lago Urmia sofreu.

 

Lições a serem tiradas dos desastres do Mar de Aral e do Lago Urmia

A grande lição a ser tirada desses 2 desastres ambientais é que a exploração de recursos naturais deve ser feita de maneira parcimoniosa e cuidadosa,  observando e respeitando  os seus limites e as leis científicas que regem a existência e  o funcionamento deste planeta chamado Terra. 

Shoji

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