O sentimento de humanidade do povo albanês foi fundamental para salvar os judeus da perseguição nazista
Os horrores da fuga e morte de população
civil inocente decorrente da invasão russa da Ucrânia em fev/2022 despertam os
fantasmas associados às piores catástrofes humanas como o Holocausto. Como se
sabe, Holocausto, também conhecido como Shoá em hebraico, foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de 6
milhões de judeus durante
a 2ª Guerra Mundial, por meio de um projeto
sistemático de extermínio étnico religioso executado
pelo governo nazista alemão, liderado por Adolf
Hitler, que ocorreu em todos os territórios europeus ocupados pela
Alemanha e seus aliados e colaboradores durante a guerra. Dos 9
milhões de judeus que residiam na Europa antes
do Holocausto, cerca de 2 terços foram mortos, sendo cerca de 1 milhão de
crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens judeus, configurando a
maior tragédia orquestrada pelos homens na história da civilização humana.
The Muslims Who Rescued Jews During The
Holocaust Hananya
Naftali set 2022
Como exceção do Holocausto a Albânia salvou os judeus refugiados
A Albânia é um dos poucos países
na Europa em que não se verificou a perseguição aos judeus pelo fato das famílias
albanesas, em sua maioria muçulmanas, ter acolhido em suas casas e protegido
milhares de refugiados que vinham de países como Alemanha, Áustria,
Tchecoslováquia, Iugoslávia e Hungria fugindo da perseguição durante o
Holocausto. Desse modo, a Albânia foi um
dos poucos países europeus que no fim da 2ª Guerra Mundial tinha uma população
judaica maior do que no início do conflito, chegando ao fim da guerra com mais
de 3 mil refugiados judeus em seu território.
Esse comportamento do povo albanês
é explicado pela tradicional solidariedade dos seus cidadãos e por um código de
honra denominado Besa, que é uma regra moral baseada na compaixão e
tolerância para com os outros. Besa significa "promessa de
honra" e, embora seja preciso voltar às tradições orais do século 15 para
entender suas origens, ele ainda persiste entre os albaneses.
O Besa alia a honra
pessoal ao respeito e à igualdade com os demais. Entre seus principais valores
está a proteção incondicional do hóspede, que pode até mesmo colocar em risco a
própria vida, sendo o código Besa passado de geração em geração.
A tradição foi transmitida por
séculos como parte do Kanun, um conjunto de leis não escritas e regidas por
costumes, criadas no século 15 para governar as tribos do norte da Albânia. Embora
o Kanun seja considerado a fonte original do Besa, muitos argumentam que a
tradição é ainda mais antiga e que o Kanun apenas colocou em palavras tradições
tribais de longa data.
Quando os nazistas ocuparam a
Albânia em set/1943, após a queda de Mussolini na Itália, eles exigiram que as
autoridades albanesas fornecessem listas de judeus a serem deportados. Enquanto
as autoridades locais recusavam a fornecer a lista dos judeus, as famílias
albanesas acolhiam a maioria dos judeus que chegavam à Albânia em suas casas,
os alimentaram, cuidaram deles e os ajudaram a se esconder em pequenas cidades
e nos bunkers subterrâneos e nas cavernas nas montanhas. Além disso, facilitaram
a fuga para países seguros, muitas vezes fornecendo documentação falsa para disfarçar
a identidade judia.
Albaneses acolheram refugiados de
Kosovo
Como replicação da doutrina Besa nos tempos recentes, na década de 1990, mais de 500 mil refugiados, a maioria albaneses étnicos, deixaram a região de Kosovo, então parte da Sérvia, rumo à Albânia fugindo das forças militares sérvias. As famílias albanesas iam para os campos de refugiados kosovares, encontravam uma família e depois as levavam para casa. Não eram parentes ou amigos, eram estranhos, mas os albaneses os recebiam, alimentavam, vestiam, tratavam como se fossem parte de sua família.
Shoji