sábado, 23 de setembro de 2023

DOUTRINA BESA NA ALBÂNIA SALVOU JUDEUS DO HOLOCAUSTO

 O sentimento de humanidade do povo albanês foi fundamental para salvar os judeus da perseguição nazista

Os horrores da fuga e morte de população civil inocente decorrente da invasão russa da Ucrânia em fev/2022 despertam os fantasmas associados às piores catástrofes humanas como o Holocausto. Como se sabe, Holocausto, também conhecido como Shoá em hebraico, foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial, por meio de um projeto sistemático de extermínio étnico religioso executado pelo governo nazista alemão, liderado por Adolf Hitler, que ocorreu em todos os territórios europeus ocupados pela Alemanha e seus aliados e colaboradores durante a guerra. Dos 9 milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de 2 terços foram mortos, sendo cerca de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens judeus, configurando a maior tragédia orquestrada pelos homens na história da civilização humana.

 

The Muslims Who Rescued Jews During The Holocaust Hananya Naftali set 2022

 Como exceção do Holocausto a Albânia salvou os judeus refugiados

A Albânia é um dos poucos países na Europa em que não se verificou a perseguição aos judeus pelo fato das famílias albanesas, em sua maioria muçulmanas, ter acolhido em suas casas e protegido milhares de refugiados que vinham de países como Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia, Iugoslávia e Hungria fugindo da perseguição durante o Holocausto.  Desse modo, a Albânia foi um dos poucos países europeus que no fim da 2ª Guerra Mundial tinha uma população judaica maior do que no início do conflito, chegando ao fim da guerra com mais de 3 mil refugiados judeus em seu território.

 A doutrina Besa acolheu os judeus perseguidos

Esse comportamento do povo albanês é explicado pela tradicional solidariedade dos seus cidadãos e por um código de honra denominado Besa, que é uma regra moral baseada na compaixão e tolerância para com os outros. Besa significa "promessa de honra" e, embora seja preciso voltar às tradições orais do século 15 para entender suas origens, ele ainda persiste entre os albaneses.

O Besa alia a honra pessoal ao respeito e à igualdade com os demais. Entre seus principais valores está a proteção incondicional do hóspede, que pode até mesmo colocar em risco a própria vida, sendo o código Besa passado de geração em geração.

A tradição foi transmitida por séculos como parte do Kanun, um conjunto de leis não escritas e regidas por costumes, criadas no século 15 para governar as tribos do norte da Albânia. Embora o Kanun seja considerado a fonte original do Besa, muitos argumentam que a tradição é ainda mais antiga e que o Kanun apenas colocou em palavras tradições tribais de longa data.

 Os albaneses protegeram os judeus contra a perseguição nazista

Quando os nazistas ocuparam a Albânia em set/1943, após a queda de Mussolini na Itália, eles exigiram que as autoridades albanesas fornecessem listas de judeus a serem deportados. Enquanto as autoridades locais recusavam a fornecer a lista dos judeus, as famílias albanesas acolhiam a maioria dos judeus que chegavam à Albânia em suas casas, os alimentaram, cuidaram deles e os ajudaram a se esconder em pequenas cidades e nos bunkers subterrâneos e nas cavernas nas montanhas. Além disso, facilitaram a fuga para países seguros, muitas vezes fornecendo documentação falsa para disfarçar a identidade judia.

 

Albaneses acolheram refugiados de Kosovo

Como replicação da doutrina Besa nos tempos recentes, na década de 1990, mais de 500 mil refugiados, a maioria albaneses étnicos, deixaram a região de Kosovo, então parte da Sérvia, rumo à Albânia fugindo das forças militares sérvias. As famílias albanesas iam para os campos de refugiados kosovares, encontravam uma família e depois as levavam para casa. Não eram parentes ou amigos, eram estranhos, mas os albaneses os recebiam, alimentavam, vestiam, tratavam como se fossem parte de sua família.

Shoji

sábado, 16 de setembro de 2023

ONDA DE CALOR RECORDE EM 2023

 O aquecimento global e o El Ninõ induzem a onda de calor

O ano de 2022 completou a década mais quente desde o início dessa aferição, no final do século XIX. Nesse ano, a cidade Kuwait registrou a temperatura de 53,2º C a mais alta em uma área densamente povoada. E essa tendência continua em 2023 quando várias partes do Mundo têm sido atingidas por uma onda de calor em dimensões inéditas.  No hemisfério Norte, em julho houve registros extremos de temperaturas entre 40ºC e 50ºC em países como França, Alemanha, Estados Unidos e Grécia. Quase 4 milhões de ha de florestas foram devastadas por incêndios no Canadá. Havaí foi atingida por incêndios florestais consideradas as mais fatais dos EUA no século 21, fenômeno semelhante que se verificou também na Grécia.

Na penúltima semana de agosto/2023, o Brasil vivenciou uma onda de calor atípica para o mês, sendo as temperaturas altas provenientes de uma grande massa de ar seco e quente que se espalhou por todas as regiões do país. No início de setembro formou-se ciclone extratropical no sul do Brasil, fenômeno raro que tem se tornado mais frequente, provocando muita chuva, fortes rajadas de vento e queda de granizo, causando inundações no estado do Rio Grande do Sul, e ao menos 47 mortes.

Segundo o Climate Prediction Center, órgão ligado a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA) e o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, os dias entre 3 e 6.07.2023 foram os mais quentes do ano e da história.  Conforme especialistas, essa onda de calor está ligada principalmente a 2 fatores: o aquecimento global e o fenômeno El Ninõ.

 

  1. Onda de calor histórica atinge o mundo com mais de 40 mortos na Europa e Norte da África Jornalismo TV Cultura ago-2023


As mudanças climáticas e o aquecimento global

As mudanças climáticas são alterações de longo prazo nos padrões do clima na Terra, incluindo o aumento das temperaturas globais, as variações nos regimes de chuva e outros fenômenos climáticos.

Como consequência disso, tem se tornado mais frequentes as secas intensas, incêndios severos, inundações, aumento do nível do mar, escassez de água potável, derretimento de calotas de gelo, tempestades e aniquilamento da biodiversidade.

 O aquecimento global e a onda de calor

Onda de calor é um período prolongado de altas temperaturas em determinada região, que geralmente excede as médias sazonais,  habituais da estação vigente, causando impactos significativos nas condições climáticas, na saúde humana, na economia e no meio ambiente. Durante uma onda de calor, as temperaturas, tanto no período diurno quanto noturno, permanecem elevadas por um longo período, resultando em condições climáticas extremas. Segundo a NOAA, as ondas de calor são resultado de ar aprisionado, em razão de um sistema de alta pressão atmosférica. A onda de calor ocorre quando uma área fica sob a influência desse sistema de alta pressão atmosférica, que bloqueia a movimentação das massas de ar e impede a dissipação do calor acumulado. Isso resulta no aumento gradual das temperaturas, que podem atingir níveis anormalmente altos.

 Efeito estufa, desmatamento e aquecimento global

De acordo com a ONU, desde 1800, o principal impulsionador das alterações são as atividades humanas, principalmente aquelas que envolvem a emissão de gases do efeito estufa. Ele resulta da queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, além do crescimento de áreas desmatadas e de outras ações industriais e agrícolas. As emissões continuam aumentando e a concentração dos gases de efeito estufa está em seu nível mais alto em 2 milhões de anos.

Por efeito desses fatores, a Terra ficou cerca de 1,1°C mais quente desde o final do século 19. Com isso, chegamos ao aquecimento global, que consiste no aumento da temperatura média da superfície da Terra e da atmosfera terrestre, devido à elevada concentração de gases do efeito estufa ao longo do tempo.

Esses gases, como dióxido de carbono e metano, retêm o calor do sol e causam um desequilíbrio no clima, levando também ao derretimento das calotas polares, à elevação do nível do mar, às alterações nos padrões de chuva e a outros eventos extremos. É essencial entender, então, que as mudanças climáticas estão diretamente relacionadas ao aumento de frequência, intensidade e duração das ondas de calor em muitas partes do mundo.

 O El Ninõ e a onda de  calor

O El Niño é um fenômeno climático natural que consiste no aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, especificamente na porção equatorial, próximo à costa oeste do continente sul-americano. O El Niño não tem um padrão de ocorrência, ou seja, pode haver anos com sua presença ou não e as causas da presença desse fenômeno climático ainda são um mistério para os meteorologistas. 

Durante o El Niño, as águas quentes do Pacífico deslocam-se para o leste, afetando os padrões climáticos em todo o mundo. Esse aquecimento anormal altera os ventos atmosféricos e a circulação oceânica, resultando em mudanças significativas nos padrões de chuva e temperatura.

A expectativa é de que, em 2023, esse fenômeno se configure como um Super El Niño, com temperaturas de até 2,5 °C acima da média em diferentes regiões do mundo, o que deve contribuir para a formação de ondas de calor.

Esforço de todos para limitar o aquecimento global até o fím do século XXI

Para evitar os efeitos ainda mais graves das mudanças climáticas e do aquecimento global, todos os povos e países devem-se empenhar efetivamente para o cumprimento do histórico Acordo de Paris da ONU de 2015, que determinou como meta limitar o aquecimento a 1,5º C até o fim deste século em comparação ao período pré-industrial.


Shoji