O líder norte coreano tem a percepção que deve aprofundar as
negociações para viabilizar a sua sobrevivência
O dia 27 de abril de 2018 testemunhou um momento histórico de repercussão mundial, o encontro dos líderes da Coréia do Norte, Kim Jong-Un, e da Coréia do Sul, Moon Jae-In, na fronteira entre os 2 países, na Zona Desmilitarizada, marcado por um fato inédito e simbólico: foi a primeira vez que um líder norte coreano pisou em território sul coreano.
Na ocasião foram firmados diversos compromissos, os quais trazem uma grande esperança de que finalmente poderá ser afastado definitivamente o perigo da conflagração entre as duas Coréias, com possível envolvimento de outros países com interesse na região, como os EUA, Japão e China e até a Rússia, esta como herdeira da antiga URSS.
Na ocasião, foram destacados os seguintes principais compromissos, que afetarão diretamente os 80 milhões de coreanos: (i) busca do fim oficial da guerra conflagrada entre 1950-53, pela transformação do armistício em tratado definitivo de paz; (ii) desnuclearização, ou seja, o abandono ou a redução drástica das armas nucleares na península coreana; (iii) reunificação das famílias separadas com a divisão em 2 Coréias; e (iv) busca da reunificação das 2 Coréias.
Sinais mais evidentes da disposição de concessão pelo líder norte coreano
Já houve tentativas anteriores de buscar a paz as quais fracassaram pela ausência da real disposição de se alcançar esse objetivo, principalmente por parte da Coréia do Norte.
Desta vez, os sinais mostrados pela Coréia do Norte parecem ser muito mais sinceros. Em grande parte, pelo fato do líder norte coreano estar mais ciente de que a sobrevivência do atual modelo norte coreano é cada vez mais inviável em perspectiva de prazo mais longo, em função da fragilidade do seu desempenho econômico, que está resultando, por exemplo, em um atraso cada vez maior em comparação à Coréia do Sul. Para amenizar o pífio desempenho econômico da Coréia do Norte, que ainda tem enormes dificuldades para suprir as necessidades básicas da população, como a de alimentá-la adequadamente, muito provavelmente buscará a gradual liberalização econômica, possivelmente pela recorrência mais objetiva ao modelo chinês, com a adoção mais ampla dos preceitos da economia de mercado.
Para a própria liderança norte coreana, é cada vez mais evidente a inviabilidade da manutenção dos rígidos princípios comunistas, como mostram os fatos que resultaram na implosão do sistema econômico comunista na ex-URSS e em todo o conjunto de países que seguiam esse regime. Na Ásia, ao contrário, destaca-se o desempenho positivo como do Vietnam, que, como seguidor do modelo chinês, apresenta um crescimento pujante, com média anual de 7% entre 2000 e 2015.
Do ponto de vista político, é também cada vez mais clara a inviabilidade da manutenção da atual estrutura política, baseada em controle total da sociedade norte coreana e da extrema rigidez na repressão aos dissidentes do regime de Pyongyang. Por exemplo, em função da crescente pressão internacional, torna-se cada vez mais premente a necessidade do abandono ou da redução drástica dos campos de prisioneiros da Coréia do Norte, os quais foram inspirados nos gulags soviéticos, que existiram amplamente na antiga URSS entre 1930 e 1960.
Desnuclearização da península coreana e reunificação das Coréias
Há muita dúvida quanto até onde a Coréia do Norte estaria disposta a renunciar ao seu armamento nuclear. Provavelmente não descartará totalmente o seu uso como instrumento de dissuasão nas negociações internacionais, mas de qualquer forma ocorrerá grau significativo de distensão entre os países de modo a trazer uma perspectiva de paz mais duradoura na região. Quanto à reunificação, não se espera o alcance de tal meta a curto prazo, em função da sua enorme complexidade e do custo fantástico que acarretaria à Coréia do Sul, com estimativas de que será muito mais onerosa do que a reunificação das Alemanhas, mas, apesar disso, tudo indica que ocorrerá inevitavelmente no futuro.
Soji Soja
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