O artigo de
Bernardo Esteves, na revista Piauí, de 02.05.2016, relata sobre as razões que
levaram a pesquisadora Suzana Herculano-Houzel do Instituto de Ciências
Biomédicas da UFRJ a deixar o País para assumir o posto de professora dos
departamentos de Psicologia e Ciências Biológicas da Universidade de
Vanderbilt, no estado de Tennessee, nos EUA.
Suzana Houzel é uma destacada neurocientista brasileira,
com graduação em biologia, mestrado, doutorado e pós-doutorado em neurociência.
Sua principal área de pesquisa é a neuroanatomia comparada, tendo se destacado
com descobertas, entre outras, que abrangem um método de contagem de neurônios
em cérebros humanos e de outros animais e a relação entre a área e a espessura
do cortex cerebral e o número de dobras em sua superfície.
Razões que levaram a neurocientista trocar o Brasil pelo
exterior
Essencialmente, o que motivou a decisão de deixar o País
é a frustração com as condições precárias para a prática da ciência no Brasil e
a buscar um novo ambiente acadêmico com mais recursos e condições de trabalho
bastante superiores relativamente às atividades de ensino e pesquisa. Entre as dificuldades defrontadas para a condução
das pesquisas, podem ser destacadas:
(i)
A burocracia para a
importação de reagentes e outros materiais e equipamentos necessários;
(ii)
A deterioração de
financiamento da ciência no âmbito federal, e também no estado do Rio de
Janeiro, inclusive com a falta de cumprimento dos financiamentos já prometidos;
(iii)
Engessamento da
carreira acadêmica, com a falta de estímulos aos pesquisadores contratados como
funcionários públicos em universidades públicas;
(iv)
A não adoção da
meritocracia como critério para a remuneração e o reconhecimento público para
aquele que se destaca na atividade de pesquisa. Ou seja, na atual estrutura, o
salário daquele que se dedica é o mesmo dos outros colegas que fazem o mínimo
necessário para não chamar a atenção.
O depoimento feito
pela Suzana Herculano-Houzel desenha um quadro muito pessimista do ambiente de
pesquisa no Brasil, o que pode despertar reações acaloradas por parte de alguns
de seus colegas, mas esse debate é bastante desejável, no sentido de que venha
a contribuir para a mudança e melhoria nos pilares básicos sobre os quais se
assenta o sistema brasileiro de ciência, tecnologia e inovação.
Se esses pilares
não forem mudados e aperfeiçoados, o processo de fuga de cérebros continuará e
até se intensificará, com sério prejuízo à capacidade de inovação tecnológica
do País.
Soji Soja